Hoje cliquei num link de uma estória compartilhada por
Lubi no Facebook e depois de ler o texto fiquei bem pensativa. Desde que comecei
esse blog, já iniciei pelo menos uns 5 textos abordando o nebuloso tema do racismo,
mas nunca tinha conseguido concluir nenhum. Fiquei pensando por que será que é
tão difícil pra mim escrever sobre esse tema. Bem, acho que o principal motivo
é mesmo porque esse assunto é muito complexo, tão complexo que não me sinto
capaz de discutir isso em um só post e segundo porque é um tema que me toca de
forma muito pessoal e sendo assim, acho que nem conseguiria escrever algo que
fizesse sentido pra quem não teve as mesmas experiências que eu já tive com
esse tema.
Nos últimos meses, parece que o racismo anda me seguindo. Nos jornais, nos blogs que eu leio, na escola e até nos textos do
mestrado sempre me deparo com alguma coisa que aborda essa praga. Parece até provocação, uma espécie de conspiração pra eu tomar coragem
e dizer o que eu penso sobre esse assunto, nem que para isso eu precise de
muitos posts e muita paciência. Aceito o desafio, então vamos lá!
Infelizmente já fui vítima de racismo tanto no Brasil
quanto aqui na Alemanha e acho que nesses dois países as situações e as vítimas
variam, mas ele existe e se manisfesta de forma parecida. Sei que muita gente
vai discordar, (e acho bom, assim a gente discute e cresce com a discussão) mas
eu explico. Uma situação como a que foi descrita no blog de Luis Nassif à que me referi acima, dificilmente aconteceria aqui. Aqui cliente é
cliente e enquanto ele se comportar de forma condizente às regras do local, poderá
permanecer ali independentemente do que estiver vestindo ou da cor de sua pele.
Essa estórias que a gente cansa de ouvir do Brasil que
um afro descendente entra em uma loja e nenhuma pessoa vem atender enquanto dez
vendedoras circulam em volta de uma pessoa branca, não tem como acontecer aqui. As lojas e
os vendedores são bem treinados pra só fazer distinção entre as cores das
cédulas de euros. Até mesmo porque, aqui
as pessoas entendem que coisas como cor da pele ou como se está vestido no
momento, não necessariamente reflete quanto dinheiro a pessoa tem à disposição pra gastar naquela determinada
situação. As pessoas responsáveis por atendimento, podem até ser racistas, mas
no geral no horário de trabalho, elas guardam esse tipo de pensamento pra elas
mesmas e se comportam de forma profissional. O que eu já considero um grande
favor à sociedade.
No Brasil a vitima mas frequente do racismo é sem
dúvida nenhuma o afro descendente, aqui é o estrangeiro. A cor da pele em si não
serve como um fator imediato de discriminação e sim a origem. Tem países que são
adorados e outros que frequentemente são associados ao que não presta. Turcos,
árabes, boa parte dos africanos e dos europeus do leste passam pelos mesmas
situações desagradáveis que os afro descendentes no Brasil. O brasileiro aqui
faz parte do grupo dos adorados. Mal sabem eles que essa adoração pode ser
prejudicial também. Mas isso são cenas do próximo capítulo.
Essa são as diferenças que eu observo. No entanto, tanto
no Brasil como aqui na Alemanha eu percebo que as pessoas no geral se
envergonham do racismo. Tanto do seu próprio como do dos outros. Nesses dois
países existe a tentativa de livrar a sociedade desse equívoco cultural. Se
percebe um esforço social e pessoal de ser politicamente correto, de ser aberto
e democrático e tanto lá quanto aqui existem leis anti racismo. No entanto esse
fenômeno é tão velho quanto o mundo e por algum motivo o ser humano sente
necessidade de distinguir, separar, classificar. A gente faz isso com tudo e
inevitavelmente também com pessoas. Por isso, o fato de existir o desejo de
muitas pessoas de acabar com o racismo, não significa que ele de fato está
acabando. Por isso muitos alemães e brasileiros de coração bom e muito bem
intencionados de vez em quando falam coisas tipo “ele é turco mas é muito bem
educado”, “ela é negra mas é linda”, “Eu não sou racista, eu tenho um monte de
amigo negro”, “um grande amigo meu é estrangeiro”. Só sente necessidade de dar
esse tipo de esclarecimento, quem tem umas idéias meio contraditórias na cabeça.
Infelizmente essas formas sutis de discriminar são mais presentes em nossa sociedade
do que a gente se dá ao trabalho de perceber.
Felizmente existe um remédio contra isso. Em primeiro
lugar, parar de negar que o problema existe. Racismo existe sim,
em toda parte do globo, e é um bicho feio, ilógico e destrutivo. O segundo
passo é decidir o que fazer para combater esse mal. Na minha opinião, o que
cada um de nós pode fazer é na verdade muito simples: procurar constantemente se
informar e exercitar a auto-reflexão. Associado a isso, procurar dar uma
limpada no vocabulário também. Antes que meus conterrâneos se chateiem comigo,não estou me referindo às manifestações de
carinho que fazem parte, por exemplo, da baianidade, tipo quando alguém diz “ô
nega, me faça um favor”, mesmo quando a pessoa pra quem se pediu o favor é loura
de olhos azuis, mas a essas retratações de discurso que a gente já tem no
automático, tipo “eu não tenho nada contra negro, estrangeiro, pobre, etc, mas...”
Tá entendendo o que eu quero dizer? Se não tem nada contra, pra que a nota de
esclarecimento antes do discurso?
Cris, adorei esse primeiro texto sobre racismo. Você esta certa, o racismo existe no mundo todinho...acho triste e acho que todos so podem se enriquecer com trocas interculturais, aprendendo como se vive, como se pensa, como se age em outras culturas, outras classes sociais, outros paises, enves de ser racistas e magoar por comportamentos ou até pensamentos racistas.
ResponderExcluirVocê nao acha que o assunto alem disso é o "preconceito"? Acho que tudo isso é devido a preconceito e concordo contigo, para lutar contra esse mal, precisa tomar consciencia dos proprios pensamentos, e preconceitos e querer combatelos para se abrir ao proximo.
Estou curiosa de ver os proximos episodios e parabens pela coragem querida!
O assunto é complexo mesmo, amiga! Só quem está literalmente na pele para saber como é q é!
ResponderExcluirÉ gatinha, é complexo! Parece q está sob a pele e sobre ela tb. Adorei o limpar o vocabulário, faz tanto sentido! Q bom q vc decidiu falar sobre isso. Q bom ler vc falar sobre isso. bjs
ResponderExcluirMimi,
ResponderExcluirValeu pelo comentário. Eu concordo com você que se trata mais de uma questao de preconeito de forma geral do que simplesmente de racismo. Vou escrever outros post em breve sobre isso. Beijocas
Com certeza Shi. Valeu pelo seu comentário!
ResponderExcluirPaolita, muito obrigada minha lindinha.
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