terça-feira, 13 de setembro de 2011

79 dias


Minha estadia no Brasil esse ano chegou ao fim. Foram muitas alegrias, muitas cervejas, muitas farras, muitos encontros com amigos, muitas comidas deliciosas, muitos quilinhos a mais. Alguns aborrecimentos também, né? Fazer o quê? Assim é a vida. Mas quer saber? Foram 79 dias genuinamente felizes. Feliz pela certeza de que muitas pessoas amadas poderiam ser alcançadas com apenas uma ligação local. Feliz de poder estar perto, beijar, abraçar e ouvir suas vozes enquanto olhava em seus olhos.

Esse tempo maravilhoso, passou super rápido e tão devagar ao mesmo tempo. Curti meus dias aqui ao mesmo tempo que senti uma saudade enorme de minhas pessoas queridas em Bremen. Queria que o dia de voltar nunca chegasse ao mesmo tempo que contava os dias pra ele chegar. Foi uma espécie de “foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos.” Coisas de ser humano que sempre fica querendo o que não tem. 

Só pra pra deixar bem claro: eu amei meus quase três meses de Brasil. Cada minuto com meus amigos  foi especial Mas agora quero mesmo é cantar igual a Chico com pequenas adaptações: pode ir preparando aquele Kohl und Pinkel, coloca uma Weizen pra gelar porque eu estou voltando!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Para Lubi, meu irmão.


Lembro que quando eu era criança tudo o que mais queria nessa vida era ter um irmãozinho. Aliás, um irmãozinho, não. O que eu queria era um irmãozão. Nas minhas fantasias de criança, o irmão que me fazia falta nunca era um bebê chorão menor do que eu e sim um menino que seria sempre um pouquinho mais que eu: mais velho, mais sábio, mais popular, mais conhecido. Muito estranho isso, mas quando criança eu trocaria, sem hesitar, qualquer situação em que eu fosse o centro das atenções pela chance de poder dizer: “O quê? Você conhece fulaninho? Ele é meu irmão.” Eu desejava aquilo com tamanha intensidade que minha cabecinha avoada de criança nem se tocava do óbvio que era a impossibilidade daquele sonho. Eu já estava aqui no mundo, ter um irmão mais velho só poderia virar realidade em outra vida.

O tempo foi passando e com ele aquela fantasia foi dando lugar a outras. Agora queria era passar no vestibular, conseguir juntar dinheiro pra fazer um intercâmbio, comprar um carro, arrumar um namorado legal, comprar uma casa, conseguir aquele emprego bala, ganhar na loto, ter uma ilha. À medida que a gente vai crescendo, nossos sonhos vão ficando mais materiais, mais práticos e comigo não foi diferente. Uns sonhos foram se realizando rápido, outros de forma mais trabalhosa e outros foram mudando ou terminaram sendo completamente substituidos. No geral, me considero uma pessoa de sorte por quase sempre conseguir alcançar minhas metas, meus objetivos.
Mas realizar sonhos leva tempo e dá trabalho. Por isso eu estudei muito, troquei de universidade, trabalhei aqui e acolá, trabalhei por merreca, fiz amigos, perdi amigos, fiz cursos, viajei, galinhei bastante - porque ninguém é de ferro -, me apaixonei, chorei, dei muita risada, caí, levantei, quis mandar tudo pra puta que pariu, virei zen, fiz yoga, perdi a paciência, a recuperei e, durante todo esse tempo (mais ou menos a partir do momento em que eu comecei a deixar de lado o desejo de ter um irmão mais velho para dar preferência a outras fantasias), uma pessoa esteve presente acompanhando tudo isso. Olhando pra trás, lembro exatamente do nosso primeiro contato: eu estava anotando alguma coisa num caderno, apoiado na minha mão, de pé, em frente à sala de aula, antes de o professor chegar. Ele estava encostado na parede, bem ao lado do papel que eu queria ler. Tentei ignorar sua presença, mas ele não é o tipo de pessoa que alguém consiga ou queira ignorar. Era um adolescente lindo, alto, com cabelos longos e brilhantes de dar inveja a qualquer menina, seus olhos eram super meigos, era muito, mas muito charmoso mesmo e como era cheiroso! Simpático como ele só, começou a brincar comigo, tentando me atrapalhar com minhas notas. Dei risada e senti meu coração se aquecer. Mal sabia eu que meu sonho de menina estava se realizando. Naquele exato instante, estava nascendo para mim meu irmão mais velho.Desde então, Lubi, meu irmão esteve presente em minha vida em todos os momentos. Nas fases ruins ele me ouve, aconselha, oferece outra perspectiva da situação. Quando eu passo dos limites, meu irmão me dá umas chamadas pra real também. Coisas de irmão mais velho. 

domingo, 4 de setembro de 2011

Choque musical


Quem disse que é preciso sair do próprio país pra se ter um choque cultural? Recentemente tive o prazer de vistar a Cidade Maravilhosa com a minha família e tive algumas experiências interessantes. A que eu quero relatar aqui hoje é de ordem musical. Quando estavamos no Rio, tivemos o prazer de conhecer pessoas muito legais que nos ofereceram experiências maravilhosas naquela cidade espetacular (um grande abraço pra Norma e Seu Raimundinho e Lena. Cláudia, valeu por nos ter apresentado!!). Eu disse que tinha curiosidade de ver um Baile Funk e Lena, mais do que depressa arrumou um pra gente ir. Ela contou que ia ter um show de pagode e que nos intervalos e no final do show rolava o funk.

Quando ela falou em pagode, imaginei algo assim como “Foge, foge Mulher Maravilha, foge,foge com o Superman”. Baixaria pura, foi o que pensei, mas como minha filosofia de vida é “se foi pro funk, vá descendo até o chão”, coloquei minha roupa de piriguete e me juntei à galera pra ir pro baile. Chegando lá, não me deixei incomodar pelo fato de o nosso grupo ser prehistórico em comparação com os adolescentes que estavam lá. Fui chegando e chacoalhando meu esqueleto. Meu primeiro contato com o mundo funk carioca me deu a impressão que a mídia o tratava com muita injustiça e exagerava muito os fatos. Não achei as danças escabrosas e nem me senti no meio do inferno. Tudo muito normal, adolescentes se divertindo, explorando sua sexualidade com outros adolescentes de forma muito saudável, foi o que pensei.

Mas aí o show da banda de pagode começou e minhas elocubrações deram espaço ao meu primeiro choque cultural com a cultura carioca. Não ouvi o que eu achava que ia ouvir. O que os cariocas chamam de pagode é o que nós baianos simplesmente chamamos de samba. Tenho que admitir que foi uma surpesa agradável. Os pagodeiros cariocas tocaram “Tudo está no seu lugar” de Benito de Paula e “Testamento de um partideiro” de Candeia. Naquele instante me lembrei de uma aula que tinha recebido alguns anos antes de meu priminho querido Samyr. Samyrzinho do Cavaco, nascido e criado no estado de São Paulo, já tinha me advertido para certas diferenças na nomenclatura musical das regiões sudeste e nordeste de nosso Brasil. O que eles chamam de pagode pra gente é samba, o que a gente chama de pagode para eles é Axé e essa miséria toda é música baiana. Faz sentido. Ainda na mesma aula ele chamou minha atenção pra não queimar meu filme falando asneiras do tipo “banda de samba”. Se toca samba é grupo, Cris. Grupo de samba.

Depois de relembrada a lição e de ter dançado muito ao som do samba, quer dizer, pagode, ou melhor samba, ah vocês entenderam, né? Foi a vez do Funk mostrar sua verdadeira cara. Não sou uma pessoa que se choca fácil com as coisas, mas as letras daquelas músicas fizeram meu cabelo arrepiar. As danças eram de fazer o pessoal de Sodoma e Gomorra corar de vergonha. Me encostei na parede pra proteger a retaguarda e bati em retirada, afinal de contas como diria o sábio filósofo Roger Murtaugh “I’m too old for this shit”.