segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Receita de Ano Novo (Carlos Drummond de Andrade)

Para você ganhar um belíssimo Ano Novo
Cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvéz ou nem sentido)
Para você ganhar um ano
Não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
Mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
Novo
Até no coração ds coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
Passa telegramas?).
Não precisa
Fazer lista de boas intenções
Para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
Pelas besteiras consumadas
Nem parvamente acreditar
Que por decreto da esperança
A partir de janeiro as coisas mudem
E seja tudo claridade, recompensa,
Justiça entre os homens e as nações,
Liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
Direitos respeitados, começando
Pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
Que mereça este nome,
Você, meu caro, tem de merecê-lo,
Tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
Mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
Cochila e espera desde sempre.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

A todos que acompanham meus delírios aqui no blog, um super feliz natal!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Berlim



Domingo passado voltei de Berlim, onde tinha passado quase a semana inteira e estou apaixonada por aquela cidade. Berlim é imensa e imponente. Como toda grande cidade, ela não espera por ninguém. Ao andar por suas ruas você ouve, lê, vê, pisa e respira história sem parar. Muito lindo, muito marcante e sem dúvida nenhuma, muito inspirador. Tenho que voltar em breve.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Meio azedo, ou "E eu com isso?"

Já era pra eu ter escrito esse post há mais tempo, mas confesso que precisei de um tempo pra processar o assunto...

Dia 05 de novembro, chego na escola e sou parabenizada euforicamente por um colega de trabalho, meio desequilibrado. Eu preciso de uns minutos para entender, afinal de contas não é meu aniversário, nem nenhuma data especial. Mas como parabéns no geral é coisa boa, aceito simplesmente e continuo meu caminho, confirmando minha tese de que aquele cara estrapola a cota de maluquice permitida por professor. Chego na sala de aula, começo a arrumar meus muitos bagulhos, quando um outro colega aparece na porta e me fala que eu devo estar muito feliz. E eu de fato estava, só não sabia se era pela mesma razão que ele esperava que eu estivesse. Sinceramente, todo mundo estava me parecendo meio louco.

A gota d'agua no entanto, foi quando uma aluna entrou na sala já me dando os parabéns. Resolvi admitir minha ignorância e perguntei por que ela estava me parabenizando. Pela vitória de Obama, foi resposta. Você deve estar totalmente feliz, acrescentou. Naquele momento, a ficha caiu: fui parabenizada três vezes num só dia pela vitória dos outros. E eu fiquei com vontade de dar meus pêsames pela ignorância geral.

Pra que não haja dúvida, achei bom que Obama ganhou. Acho também que esse é um momento histórico importantíssimo. Quem imaginava ver os Estados Unidos elegerem um presidente negro? Martin Luther King, com certeza não... Mas além do fato de nós dois sermos humanos, habitantes do planeta terra e representantes da raça negra, não temos nada em comum. Por isso não preciso ser parabenizada pela vitória dele, porque eu simplesmente não tenho nada a ver com isso. Nem todo negro se parece, é parente ou faz parte da mesma irmandade.

E tem mais: para aqueles que se passaram nas aulas de história, Obama não é a Princesa Isabel e já não existe escravidão oficialmente no Brasil desde 1888. Brasil é na America do Sul e o nosso presidente é brasileiro. Muita gente, por medo de parecer racista, acaba falando tanta besteira que no final faz papel é de palhaço mesmo. Sei que os parabéns foram dados com muito boas intenções. Mas dessas aí, como diz o ditado, o inferno está cheio. Na minha opinião, a melhor coisa a se fazer quando não se quer ser confundido com um racista, é mesmo deixar de ser um.

sábado, 25 de outubro de 2008

Identidade

Minha amiga Maria da Graça, que se sente muito melhor como Gal, está passando por um período de Maria. Isso me levou a pensar nos vários nomes que me apresentam e como eles me fazem sentir. Nasci como Cristiane. Segundo minha mãe, um nome muito grande para uma coisinha tão pequena, e acabei virando Cris. No decorrer de meus 32 anos já fui Crisinha, Tião, Budi e Crispina. Eu sou todos esses nomes.

Quando cheguei aqui acabei recebendo outros nomes. E meus novos nomes iam e viam com novas formas de me sentir, de andar e até mesmo de pensar. De repente virei Frau Santos, muito séria e bem antipática. Ser chamada de Frau Santos me arrepia a espinha. É o mesmo arrepio que sentia quando era criança e ouvia minha mãe gritar "Cristiane, venha cá!" Ser chamada de Cristiane só podia ser encrenca. Por isso tenho muito cuidado com essa tal de Frau Santos.

Muitas vezes aqui sou também Cris Santos. Mas essa daí já é um pouco mais legal, quase como sua colega Cris Oliveira só um pouquinho deslocada no espaço. Mas de todas as Crises que apareceram aqui na Alemanha, as que eu mais gosto são Cris Cross e Crispy. Essas aí andam sempre com os amigos, sejam eles alemães ou brasileiros.

Tem dias em que eu sou mesmo é Cris Credo. Quando essa daí chega, está procurando briga, melhor sair de perto. Algumas amigas brasileiras e eu desenvolvemos uma brincadeira na nossa correspondência eletrônica. Quando escrevemos uma pra outra sempre assinamos com um nome diferente, engraçadinho que muito diz do nosso momento ao escrever o e mail. Nossos nomes, sempre dizem muito da gente, mesmo sem que a gente se dê conta.

Quando penso direitinho, é bom ter muitos nomes. Um dia assim, outro dia nem tanto. Um nome para cada ocasião, como a roupa, o cabelo ou a maquiagem que a gente coloca para encarar o mundo. Quantas pessoas passam a vida inteira sendo somente chamadas por um nome só? Por isso agora sou Cristiane, escrito sem h no meio, mas no geral me identifico mesmo é com Cris: simples e bem pequena, mas com grande potencial para ser completada ou se transformar em algo bem diferente. Posso virar Cristal ou ser Cricri, mas tudo sem muita Crise.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Master of disaster


Afffff!!!! Confesso que foi brabo, mas finalmente consegui ser aceita no mestrado da Uni-Bremen. Esta é uma semana de orientação, para os alunos desorientados como eu, acharem o fio da meada. E o meu fio ainda contiunua meio solto por aí. Vou ter dois anos pra tentar encontrar. Mas enfim, estou super feliz e cheia de novidades da vida universitária.

Todo o sistema de ensino superior alemão vem passando por uma reforma enorme. Eu comecei a estudar aqui bem nesse período de transição, no qual ninguém tem certeza de nada e mesmo os alemães estão meio perdidos no meio disso tudo, sem saber ainda se no final das contas essas mudanças todas vão dar certo ou se a vaca vai pro brejo de uma vez. Como cobertura para esse bolo todo, o curso que comeca semana que vem, está sendo oferecido pela primeiríssima vez. As inscrições foram prorrogadas por causa do número insuficiente de malucos dispostos a estudar linguística em alemão e mesmo com toda a bajulação pra atrair candidatos, o curso vai ter de começar semana que vem com apenas uma companheira de loucura e eu.

Nessa circunstância já virei até celebridade. Cheguei na Secretaria Geral de Cursos hoje para descascar um pepininho e fui recebida como sempre na maior frieza e impaciência. No entanto, assim que mencionei meu curso, um sorrisao se abriu no rosto da funcionária. "Ahhh, entre e sente-se um minutinho por favor. Conheci sua colega semana passada. Até que fim estou lhe conhecendo!" Contei essa estória em casa e meu marido se lembrou que tem um outro caso desse la na universidade. Todo mundo conhece os dois nerds que estudam Astrofísica.

Quanto tempo durará essa fama? Passaremos a ser conhecidas como as "Linguistiquetes"? Toda a
atenção que estamos recebendo dos professores continuará a ser uma coisa boa ou isso vai terminar de me enlouquecer? Aguardem cenas dos próximos capítulos...

sábado, 4 de outubro de 2008

Tree Hugger

The flower said "I wish I was a tree"
The tree said "I wish I could be a different kind of tree"
The cat wished that it was a bee

The turtle wished that it could fly
Really high into the sky
Over rooftops and then dive deep into the sea

And in the sea there is a fish
A fish that has a secret wish
A wish to be a big cactus with a pink flower on it
And the flower would be it's offering of love to the desert
And the desert,
So dry and lonely
That the creatures all apreciate the effort

And the rattlesnake said "I wish I had hands,
so I coud hold you like a man"
And then the cactus said "Don't you understand?
My skin is covered with sharp spikes
that will stab you like a thousand knives.
A hug would be nice, but hug my flower with your eyes."

Kimya Dawson and Antsy Pants

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Bambüddel


O início do semestre de aulas me motivou a escrever mais um texto sobre uma das escolas onde eu trabalho aqui em Bremen, a VHS. Tem mais ou menos um ano que a sede da escola foi transferida de um casarão em um bairro de classe alta de Bremen para um prédio high-tech de nove andares perto do centro. Pela história da escola, era mesmo meio esquisito que sua sede fosse em uma mansão em um bairro chique. A nova sede com certeza tem mais a ver com a história da instituição.

O prédio onde hoje funciona a Bremer Volkshochschule foi propriedade do comerciante judeu Julius Bamberger, que viveu de 1880 à 1951.Sendo judeu e vivendo aqui na Alemanha nesse período, não é difícil de imaginar o que aconteceu com ele, não é mesmo? Pois é, a perseguição nazista o obrigou a fugir para a Suíça, depois para a França e finalmente para os Estados Unidos. Seu edfício, que deveria ter sido o primeiro shopping center de Bremen foi bombardeado em 1945, mas mesmo antes disso, já tinha sofrido embargos mil, uma das medidas persecutórias utilizadas pelo Terceiro Reich.

Ano passado a VHS se mudou para esse prédio que é também conhecido como "Bambüddel". Dizem que o "Bambüddel" é todo high-tech. Eu falo "dizem" porque a tecnologia que eu vi até agora no prédio ainda não me impresionou. Mas tudo bem... é difícil impressionar com tecnologia alguém que já trabalhou no Sartre COC. Por isso, prefiro simplesmente dizer que deve ter muita coisa escondida que eu ainda não descobri... Como eu sou dessas pessoas que demora pra entender as grandes inovações tecnológicas, mas que se impressiona muito facilmente com pequenas coisas simples, tenho de confessar que o que mais chama a minha atenção no "Bambüddel" é o café e restaurante que tem no térreo.

Lá os funcionários sabem os nomes dos clientes e o atendimento é sempre acompanhado de um sorriso. E não é esse sorriso obrigado pela política da empresa, muito frequente nos atendimentos de nossos tempos, não. Sei disso porque é um lugar onde idosos e portadores de deficiência se sentem à vontade para demorar uns minutos a mais do que os outros para achar o dinheiro na carteira e o funcionários não ficam impacientes. Esse tipo de delicadeza com outro aqui por essas bandas, me impressiona muito mesmo. Isso, e a vista lindíssima que se tem de toda cidade lá do último andar do edfício.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

VHS


VHS é a abreviatura de Volkshochshule que traduzindo para o português seria uma coisa tipo "escola do povo" ou "escola popular". Quase todas as grandes cidades alemãs e austríacas tem uma VHS, para sorte de muita gente que mora aqui. Eu explico: quase todas as VHS foram fundadas depois da Primeira Guerra Mundial numa tentativa de oferecer educação rápida e de qualidade para os milhões de pessoas para as quais o direito à uma formação acadêmica foi negado durante esse período da história. Mas foi mesmo durante as décadas de 60 e 70 que as VHS aqui na Alemanha estabeleceram seu caráter popular, inovador e revolucionário. Até hoje as VHSs são conhecidas por serem escolas que oferecem cursos bons e diferenciados à preços que qualquer trabalhador pode pagar. Um curso de inglês, por exemplo, custa em média 80 Euros, ou mais ou menos R$190,00 o semestre. Não é à toa que muitas pessoas, só de passa-tempo, se matriculam em cursos de inglês, jardinagem, decoração, fotografia, yoga e o diabo a quatro aqui.

A Volkshochschule também foi a primeira escola a me oferecer emprego como professora de inglês aqui na Alemanha. Me lembro de minha entrevista com Maggie Bouqdib, na qual a gente conversou como se já nos conhecessemos a anos e que no final saí de lá com duas turmas a começar na semana seguinte. Ela também foi a primeira coordenadora de escola aqui em Bremen que não achou anormal uma brasileira ser professora de inglês e que ao conversar comigo se interessou mais por minha experiência pessoal e profissional do que pela situação futebolística brasileira e pelas belezas do Rio de Janeiro (que eu nem conheço...).
Enfim, comecei a trabalhar na Bremer Volkshochschule em 2003 e foi amor à primeira aula. A escola tem seus problemas, como toda escola do mundo, mas é uma instituição pela qual é impossível não se apaixonar. Um das principais motivos talvéz seja porque num país tão cheio de preconceitos e idéias estranhas essa escola tem professores das mais diversas nacionalidades. E não é o previsível "Hans, só porque é alemão vai ter que ensinar alemão e Luigi vai ter que ensinar italiano só porque é italiano", não. Estas possibilidades existem também, mas na VHS Cris Oliveira é brasileira, não entende de futebol e ensina inglês. E ninguém acha nada estranho nisso.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Brasileira


Em 1992 eu dei minha primeira aula de inglês. Meu alunos na época nem desconfiavam que tinham sido entregues nas mãos de uma pessoa que não tinha a menor idéia do que estava fazendo. No entanto, graças à São Morfema (os católicos fervorosos que me desculpem, mas não sei qual é o santo protetor das salas de aulas) nenhuma catástrofe aconteceu e aos poucos eu fui tomando gosto por ensinar e com isso passei a sempre procurar ser a melhor professora que eu posso ser em cada momento de minha carreira profissional.

Desde abril deste ano resolvi tentar ensinar português. Contei e ainda conto com a ajuda de Shi, que além de ser uma grande amiga é também uma excelente professora de nossa língua. Comecei dando aula para um grupo apenas e a coisa está comecando a se expandir. Estou muito surpresa e feliz de ver que nossa língua está sendo cada vez mais procurada por aqui. Tem gente que quer aprender por causa do trabalho, muitos aprendem simplesmente para viajar pelo Brasil ou Portugal e muitos outros querem aprender português porque tiveram algum contato com a língua e a acharam linda. Ou conhecem brasileiros e os acham pessoas muito bacanas, divertidas e com isso só já se motivaram para querer aprender nossa língua.

Me orgulho de minhas origens e acho meu país lindo, mas confesso que meu nacionalismo nunca foi muito exibicionista. Apesar de amar meu país não penduro bandeira do Brasil na minha sala nem durante a copa. Não é protesto, nem descaso. Meu amor pelo Brasil e tudo que diz respeito a ele é assim mesmo, calminho. Eu gosto de senti-lo sem precisar fazer alarde disso. Mas este momento em que estou tendo a possibilidade de dividir meu idioma e minha cultura com outras pessoas tem me deixado extremamente feliz. E outro dia me peguei cantarolando "ah... sou brasileira, com muito orgulho, com muito amor..."



domingo, 27 de julho de 2008

Do jeito que se veio ao mundo

No meu aniversário esse ano resolvi fazer algo diferente do que sempre faço em aniversários e me mandei pra um Spa perto de Leipizig. Aqui na Alemanha existem uns vilarejos no fiofó do mundo que por serem muito retirados e basicamente não terem atrativo nenhum, acabam se resignando a serem retiros. Essas cidades recebem a denominação de "Bad" e se tornam o destino de pessoas interessadas em se isolarem por razões diversas: meditação, tratamentos psicológicos, tratamentos de beleza, terapias anti-stress, o escambáu. São lugares onde o maior agito é o som dos pásssaros cantando pela manhã e das árvores sendo agitadas pelo vento durante a noite. Por isso se alguém convidar vocês para visitar uma cidade cujo nome seja Bad- alguma coisa, tenham medo.

Enfim, fui para Bad Düben com meu amor, rumo a uma estadia de dois dias em um hotel-spa encravado no meio de um bosque lindo e onde, como já expliquei , não tinha nada pra ver nem pra fazer a não ser relaxar e ... o hotel era lindo e eu nem desconfiei de nada quando o recepcionista nos entregou o mapa do hotel e eu vi na legenda uma coisa chamada "Bademantelgang" (caminho do roupão). Nos acomodamos e fomos explorar a área. Muito verde, piscinas e saunas de todos os tipos imagináveis. Resolvemos começar aproveitando as saunas e quando tirei meu roupão e meu amor viu que eu estava de biquini, ele me informa, para meu terror, que eu teria de me despir completamente. Minha pergunta: "Como assim?" resposta: " Nessa área do hotel só pode ficar pelado." Minha reação: "Hã?"Depois de muita discussão do tipo tira-não-tira-o-biquini, resolvi a contra-gosto vestir a fantasia de Eva, mesmo sem entender o porquê de se ter de estar como se veio ao mundo para poder ir à sauna.

Aqui na Alemanha as pessoas não precisam de muita desculpa pra deixarem cair as toalhas e revelarem suas coisas sem o menor constrangimento. Eu já tinha entrado em contato com essa nua realidade em diversos parques, piscinas e lagos por aqui onde as pessoas (prestem atenção!) tomam banho de calção e biquini e antes de irem embora, tiram a roupa ali mesmo na frente de todo mundo, vestem a roupa seca e vão embora. Meu amigo-irmão Lubisco, que já morava aqui antes da minha primeira chegada em 2002, me alertou para isso. Ele chamou minha atenção para um interessante paradoxo que acontece por aqui: você reconhece as brasileiras nas piscinas pelos biquinis minúsculos que pouco deixam para a imaginação. Os alemães ficam horrorizados com nossa economia têxtil, mas acham a coisa mais natural do mundo tomarem sol sem a parte de cima do biquini e ficarem desfilando sem roupa por aí.

Confesso que meu constragimento em Bad Düben durou apenas meia hora. Depois disso eu nadei, feliz da vida com minhas coisas sendo exibidas livremente. Me senti a própria protagonista da Lagoa Azul. Hoje em dia estou convencida de que roupa é uma bobagem. Pra falar a verdade estou escrevendo esse texto agora mesmo da mesma forma como vim ao mundo. Quem me acompanha nessa?

Entre o português e o alemão

Meu computador está de brincadeira comigo e nao está permitindo que eu acentue devidamente. Irônico que justo nesta postagem sobre meus devaneios linguísticos nao vou poder usar nem til, nem cedilha. Mas o objetivo final da linguagem é a comunicacao. Se para isso o falante nao dispoe de um certo recurso ele acaba se virando com outro. O importante é comunicar. Vou me comunicando por enquanto com acentuacao precária mesmo. Fico na esperanca de que a mensagem seja compreendida apesar de tudo.

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Para alemao literatura é ciência. Danca é competicao ou esporte. Para mim, literatura e danca sempre serao arte. Para brasileiro, jogar e brincar sao duas coisas diferentes. Em alemao, a palavra spielen coloca os dois verbos no mesmo saco. Se tudo é a mesma coisa, por que será que por aqui nao se veêm jogadores como Ronaldinho Gaúcho ou Garrincha que sabem jogar brincando?

Na língua alema estudar e aprender é uma coisa só: lernen e ponto. Seria muito bom se cada vez que um alemao sentasse pra estudar ele pudesse mesmo garantir que aprendeu. E por fim, será que alguém aí pode me explicar por que é que numa cultura na qual as mulheres sao tao fortes a gramática permite que o homem e o menino sejam masculinos (der Mann, der Jung) e a menina (das Mädchen) tem de ser neutra?

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Leiam também o post Lost in Translation onde eu deliro a respeito de coisas parecidas.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Letter to a Younger Me

From: Cris aged 32
To: Myself aged 15

Dear Cris,

First of all, happy birthday!

I bet you are surprised I'm writing to you, but I thought that hearing from me now would make your life a lot easier in the future. You are a very hard-working and intelligent young woman and you'll be very successful in your life, if you learn not to give up what you start. That's why I advise you to think twice before dropping that English course you've been complaining so much about. I know when you started learning English, it was supposed to be a hobby and at the moment it's just not fun anymore. But hang in there and you'll end up with a beautiful career, which will teach you a lot about people and more importantly, it'll teach you a lot about yourself.

Never forget how old you actually are. Right now, what I see is a teenager trying to be an adult at all costs. You always try to be older than you really are. Forget this! Enjoy your age. You are truly very young and you should act so. That means you should be sillier, angrier, rebel more and make more mistakes! Believe me, people who matter will love you not only despite your mistakes, but also because of them.

Stick to your plans, support your own ideas as crazy as they may seem and speak up if you wanna be heard. Believe me, you're not the only one feeling what you're feeling or thinking what you're thinking, so don't be afraid. Don't always do things in a rush. Instead of doing things trying to get rid of them so that you can go ahead and do something else, try doing less, but taking your time and enjoying what you're doing.

Have confidence in yourself. When I look at you I see a strong, intelligent person who is just too insecure to speak your mind, so you end up pleasing everyone but yourself. That's just tiring!Think about yourself for a change. Let your parents worry about you. You are the child and they are the adults. Don't try to switch places with them.

And finally, don't wear neon coloured leggings, jackets with shoulder pads or New Wave Glitter Gel on your hair. It doesn't matter what Capricho magazine says. It simply doesn't look good and you'll totally regret it later.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Coming next...


Meu próximo post vai ser bem cara-de-pau. Um post meu para mim mesma em minha própria homenagem. Não tive um ataque de narcisismo, não. A estória é a seguinte:

Um dia desses aí eu achei o site de um livro muito fofo. O título é "What I Know Now: Letters to My Younger Self". Trata-se de uma coletânia organizada pela jornalista americana Ellyn Spragins. Nesse livro ela entrevista diversas mulheres famosas de diversas formas de fama, como por exemplo a cantora Macy Gray ou a ex-secretária de estado do governo Clinton, Madeleine Albright. Nessas entrevistas, ela primeiro situa o leitor pra que tipo de mulher é aquela que está sendo entrevistada e um pouco de sua estória de vida. Depois ela pergunta às entrevistadas o que elas diriam à si mesmas, se elas pudessem fazer essas mensagens viajar no tempo. Depois disso as entrevistadas são convidadas a escrever essas mensagens como cartas para elas mesmas mais jovens. As cartas não chegarão à destintária é óbvio, mas com certeza as mensagens vão acabar tocando os corações de muitas outras mulheres.

O mais lindo desse livro, no entanto, é saber que parte da verba arrecadada com sua venda vai pra ongs engajadas em causas para benefício de mulheres no mundo todo. Cada ano eles elegem uma ong e uma causa diferente. Além disso é lindo ver que as cartas, escritas por mulheres tão diferentes dão a impressão de que nós todas vivemos os mesmos dramas pela vida. Elly Spragins disse que o objetivo dela com essa coletânia é inspirar mulheres. Pois é, eu me inspirei. Fiquei pensando em como seria maravilhoso se eu pudesse de fato fazer uma carta assim chegar até minhas mãos quando eu era tão jovem e confusa e tudo era um drama enorme. Iria com certeza ser uma experiência estranha e divertida. Minha carta para minha younger self vem aí no meu próximo post.

Eu sei que essa estória parece água com açúcar, auto-ajuda, blá blá blá. Mas como diria o finado Raul Seixas: "Quando uma flor é uma flor e não tem outro jeito da gente dizer, pra que mentir, quando eu sei, eu sei que eu quero mesmo é cantar iê iê iê, eu quero mesmo é falar de você, eu quero mesmo é falar de amor, eu quero mesmo é rimar amor com dor, eu quero mesmo..."

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Gentileza? Não, obrigada

No mundo de hoje ser gentil é difícil. Tive a prova disso umas semanas atrás. Estava num ponto de ônibus quando um senhor meio apressado chegou, me entregou um papelzinho dizendo “pode ficar com esse, eu tenho outro” e rapidamente entrou no ônibus. Percebei do que se tratava o tal papel ainda a tempo de acenar um “obrigada” para ele antes do motorista arrastar o ônibus. O tal papelzinho era um ticket de passagem, que valia por um dia inteiro no valor de 7,30 euros. 

A primeira coisa que me veio à mente foi se o ticket era válido mesmo, e era. Depois fiquei me questionando porque alguém daria 7,30 assim a um desconhecido na rua à troco de nada. Concluí que ainda existe muita gente boa neste mundo e fiquei feliz de ter recebido o ticket, apesar de que pra mim ele não iria fazer muita diferenca, pois eu também já tinha um. Cheguei à conclusão que seria um desperdício de dinheiro e de boa ação guardar aquele ticket entao resolvi passá-lo adiante. Cheguei perto da primeira pessoa que estava prestes a pagar a passagem ao entrar no ônibus e ofereci o ticket. O rapaz recusou muito educadamente dizendo que preferia pagar pela própria passagem.

Continuei tentando achar alguém que pudesse se beneficiar do tal ticket. A segunda pessoa para a qual ofereci, perguntou quanto eu queria por ele e quando eu falei que era de graça, ela simplesmente se afastou sem dizer mais nada. Teve uma menina que me olhou de cima a baixo e concluiu que eu nem era digna de uma resposta. Um senhor, me perguntou pra que eu estava tão interessada em passar aquele ticket adiante. Expliquei a situacao e ele disse somente: Não fique aé se preocupando não. Já que ninguém quer, jogue esse ticket fora! Ele também preferiu pagar a passagem a aceitar o ticket.

Realmente dessiti de tentar passar a passagem pra alguém. Voltei pra casa me sentindo mal com a sensação que gentileza desperta desconfianca, é uma coisa desnecessária e o melhor mesmo é guardar pra si. Que conclusão horrível! Eu insisto em acreditar que o mundo está repleto de pessoas boas. Ou será que eu sou muito boba e confio demais?

sábado, 14 de junho de 2008

Estrangeira

Apesar de estar vivendo aqui em Bremen a quase seis anos entre idas e vindas eu ainda nao tinha me sentindo estrangeira. Deslocada sim, meio estranha e diferente de todos também, mas nunca verdadeiramente estrangeira. E isso era uma coisa boa já que a vida para estrangeiros aqui nem sempre é um mar de rosas.

Até que duas semanas atrás comecei a ver bandeiras alemães por toda parte. A princípio foi curioso, mas quando não só o número como também o tamanho das bandeiras comecou a aumentar, fui ficando meio assustada e comecei a achar que tinha uma guerra acontecendo por aqui da qual eu ainda não tinha me dado conta. Pouco antes de entrar em pânico descobri que o país estava em contagem regressiva para o campeonato Europeu de futebol, conhecido por aqui com EM (Europa Meisterschaft). Por aí vocês deduzem o quanto eu me ligo em futebol... Minha (falta) de empolgação com esportes à parte, os fãs do futebol com suas bandeirinhas tem dado muito pano pra manga na discussão sobre o orgulho nacional por aqui.
Como Ubaldo Ribeiro, muito precisamente observou em seu livro de crônicas “Um Brasileiro em Berlim”, até bem pouco tempo atrás a coisa mais difícil de se achar aqui na Alemanha era um alemão. Quando se perguntava “De onde você é?” As pessoas respondiam orgulhosas que eram da cidade tal ou de uma certa região, mas nunca que eram da Alemanha. Dizer que era alemão, era mais ou menos como confessar um defeito horroroso. Coisas do passado de guerras...
Hoje em dia, discute-se muito sobre isso e sobre quantas gerações serão obrigadas a viver sentindo vergonha e se desculpando pelas atitudes de seus antepassados até que passe a ser tranquilo assumir sua própria nacionalidade, ou poder pendurar a bandeira de seu país nos seus carros ou nas janelas de suas casas sem que com isso uma polêmica seja levantada. Nunca fui contra sentimento de nacionalismo se nao é doentio nem babaca como o de muitos americanos. Mas ver esse monte de bandeira todo dia me faz lembrar a todo instante que eu não sou daqui. Sou estrangeira. E sinceramente, como diria meu marido, um polonês naturalizado alemão, esse monte de bandeira alemã hasteada ao mesmo tempo dá um medo...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Esquisitices de alemão que custei a entender...

Depois de meu último post, fiquei pensando no grande número de esquisitices que andei ouvindo por aqui nesses quase 6 anos de Bremen. Será que sou só eu quem acha essas coisas meio bizarras?

1. Muito banho faz mal pra pele.
Teoria muito difundida por aqui. Ainda n
ão consegui entender porquê.

2. "frische Luft" - Vento fresco Ar fresco
Verdadeira obsess
ão aqui neste país. Tudo bem que no inverno as pessoas passam muito tempo dentro dos lugares, com aquecimento ligado. O ar na casa fica meio estranho, tem de se abrir as janelas com frequência pro ar dar uma circulada. Mas a forma como as pessoas falam de "vento ar  fresco" é estranha. Falam em sair pra pegar um pouco de vento fresco como um dependente químico falaria que vai sair pra ver se consegue um pouco de crack. Estranhão...

3. Comer na varanda ou jardim ou "schön im Garten oder im Balkon essen"
Se o tempo está bonito, alem
ão fica doido pra sair de casa. Isso eu até entendo. O tempo aqui no geral é uma porcaria o tempo todo, quando fica um pouquinho mais quente ou quando o sol brilha por 10 minutos que sejam, as pessoas querem aproveitar o máximo esse evento. Mas eles falam das refeições normais do dia- a -dia no jardim ou na varanda como se fossem mega eventos. Um pouco de exagero.

4. Quantas batatas você vai comer?
Uma
das perguntas mais estranhas que já ouvi em minha vida. Alguém é capaz de saber de antemão quantas batatas ele quer comer? Acho isso impossível de determinar, mas se você for convidado a almoçar na casa de algum alemão é melhor saber o que responder e que não vá querer comer mais ou menos quando a comida ficar pronta porque isso vai acabar estressando a (o) anfitriã(o). O que nos leva à próxima esquisitice...

5. Stress
N
ão quero me estressar escrevendo sobre isso. Ver postagem Doença alemã.

6. "Você é quem sabe" ou o famigerado "Du muss selber wissen"
Umas amigas brasileiras aqui em Bremen me fizeram prestar aten
ção nessa. Você está com alguma dúvida, dessas que você precisa dividir com uma amiga. Você acredita que encontrou uma pessoa cuja opinião você pode confiar, aí vai lá e lanca a pergunta: "estou com um problema, não sei se devo fazer isso ou aquilo, o que você acha?" Aí a pessoa que você acha que pode te ajudar a decidir, sai com o tal do "Du muss selber wissen...". Dá vontade de dizer "nao, realmente nao sei o que fazer. Se eu soubesse, nao estaria te perguntando!!!" Claro que você não espera que ninguém decida sua vida por você, mas ouvir os diversos pontos de vista dos amigos nos ajuda a chegar às nossa próprias decisões. Vamos lá minha gente, nao há nada demais em dizer o que vocês acham de um problema quando suas opinões são requisitadas.

Me interessei por essa lista. É uma forma de desabafar. Volto pra atualizá-la assim que me lembrar de outras esquisitices.


segunda-feira, 12 de maio de 2008

Doença alemã


Estou sofrendo de uma doença típica aqui do norte da Alemanha. É contagiosa. O único tratamento conhecido é repouso e como nunca fui chegada a repousar muito, acho que vai ficar sem cura mesmo. O nome da doença? “Freizeitstress” (stress do tempo livre).

Alemão superutiliza a palavra “stress”. A gente fica estressado de tanto ouvir essa palavra sendo repetida. Se eles tem mais de um compromisso no dia, o dia foi estressado, se alguém está agitado e querendo uma resposta rápida a pessoa está criando stress, se tem de estudar pra prova, está com stress, se chove, todo mundo anda com jeito de estressado e falam isso com uma cara que por si só já te estressa também.

Sinceramente, não entendo de onde vem tanto stress. Aqui a maioria se estuda, não trabalha, se trabalha, a semana termina sexta-feira às 14:00, muitos do que não trabalham recebem ajuda do governo e quase todos tem pelo menos um mês de férias no ano no qual eles viajam pra outros países. Venho de um país onde as pessoas trabalham de segunda a sábado (às vezes aos domingos), engolem o almoço em 15 minutos, vão pra faculdade à noite e que quando chega o fim de semana, vão à praia, vão ao show, dançam, tomam cerveja, acordam de ressaca, encontram amigos, fazem um faxinão na casa, almoçam com a família, lavam carro e muito mais. Nos intervalos desse dia a dia as pessoas ainda desviam de bala perdida, correm de ladrão, se escondem de guardador de carro, pegam fila em banco e tem de bolar planos criativos pra conseguir pagar as contas no final do mês. Só que lá ninguém fica falando de stress o tempo todo. Isso é a vida.

Acho muita cara-de-pau esse mal estar que alemão faz questão de dizer que tem. Frescuras tipo “Freizeitstress” (O estresse do tempo livre, quando você tem muitas opcões e não sabe qual delas escolher) ou “Sommermüdigkeit” (cansaço de verão). E como reclamam!! Reclamação é esporte nacional. Se chove, que tempo horrível, se faz calor, ai assim não dá. Não reclamam de falta de dinheiro porque isso é coisa que eles sempre tem, mas mesmo assim muitos acham estressante ter de decidir se esse ano viajam de novo pra Maiorca ou pra Tenerife. Afe! Quanto problema! Não falei que esse negócio é contagioso? Vou parar por aqui. Fiquei muito estressada.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Lost in Translation

Alemão tem umas palavras enormes. Algumas delas justificam o tamanho, significando uma infinidade de coisas diferentes ao passo que outras decepcionam depois que você descobre seus significados. Por exemplo, você lê a palavra “Streichholzschachtel” em algum lugar e pensa imediatamente que aí vem bomba. Prende a respiração em expectativa antes de ler sua definição no dicionário. Uma palavra dessas só pode ter um teor altamente filosófico. Chega a ser ridículo quando a pessoa acaba descobrindo que esse barulho todo era só por causa de uma reles “caixa de fósforo”.
 
A língua alemã parece ter uma palavra para cada coisa do universo. É como se dar nome as coisas, fosse uma questão de honra. Os substantivos são tão importantes que estão sempre se exibindo em maiúsculas ao longo dos textos. Por mais insignificante que algo possa parecer, por mais estranho que seja o sentimento, por mais imprecisa que seja a cor, o alemão dá um jeito de nomear. Foi assim que me deparei com a diferença entre “pink” e “rosa” e com o incompreensível sentimento de “Fernweh” que hoje em dia eu entendo como sendo uma vontade imensa que dá de sair por aí, conhecendo outras culturas, outras pessoas, outros mundos. Quando você não aguenta mais seu dia a dia e precisa viajar pra muito longe, deixar tudo pra trás, nem que seja por alguns meses, dias que sejam. É uma saudade ao contrário que pelo visto eu sempre tive, mas precisei chegar aqui pra saber exatamente como explicar.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Um novo perfil



Foto nova no perfil! Na era das câmeras digitais, todo mundo faz foto artística. É um tal de foto de olho e de pé que não acaba mais. Meus pés, que nunca tinham sido fotografados antes, já estavam meio enciumados. Portanto aqui estão eles. De meia porque além das unhas não estarem feitas estava meio frio. Dá pra perceber que eles estão sorrindo?

Ah! Notem também que eu aprendi a colocar os acentos do português com o computador alemão. De agora em diante qualquer erro de ortografia aqui é incompetência mesmo, nao dá mais pra culpar a tecnologia. Ela até que colabora...

terça-feira, 15 de abril de 2008

Teaching in Bremen

Before people start asking me for money, I must say that despite all the good luck and happiness, I haven't won the lottery yet. What I did win, though, was a text competition at the Macmillan internet site onestopenglish. The link is here for those who have to see to believe. For those too lazy to go through all this trouble, that´s the text below. And for those who´ll certainly be asking, no, it wasn't a money prize!!
http://www.onestopenglish.com/section.asp?theme=mag&catid=
58256&docid=156042

Germany: A letter from Bremen
Cristiane Oliveira shares her experiences of teaching in this small town in Germany.
Teaching in Germany
by Cristiane Oliveira
After ten years working as an English teacher in Brazil (where I am from), life took me to Germany where I have spent the last 5 years trying to get by in a cute little city called Bremen. Actually Bremen is not even that little by German standards (about 550,000 inhabitants), but for someone who was born and spent most of her life in a city with almost three million inhabitants, it is quite a change.
Teaching in Germany, like teaching everywhere else, has its high and lows. Although I had no idea where I was going to work or even where I should apply for a job, I was absolutely self-confident when I got here. I am an experienced teacher, with plenty of qualifications and always willing to learn more. Then I had my first surprise. Nobody had heard of COTE, CELTA or DELTA and those who had, didn`t seem to think much of these qualifications. All that mattered was whether or not you were an English native speaker. This situation has been slowly changing, as with the EU and the Common European Framework of Reference, language teaching institutions gradually began to realize that learning foreign languages is indispensable not only in Europe, but in the whole world and that the teacher must know what he or she is doing in order to really be able to help students in their learning process.
So, there I was 5 years ago, trying to find a job and facing the difficulty of making people believe that, although I wasn’t a native speaker, I was highly qualified for the task of teaching. Soon enough I realized that if I wanted to work here, it would have to be as a freelancer and that finding a job wouldn’t be very easy. When I was almost giving up, I came across a school where the coordinator was a very nice lady from Brighton, who happened to have had gone through lots of trouble herself when she first got here and she didn’t hesitate in offering me some groups. So, I started working freelance at that school and not longer after that, I started to get very positive feedback from the students. One of the courses I taught was for young children aged 6 and 7 and as they went home and told their families they were having a lot of fun in these classes, some of their parents came to meet me. They raved about my work at the children’s school and so some parents decided to put together a course for children from the 1st and 2nd grades. These children hadn’t started having English classes as part of their school curriculum yet. The parents wanted to take advantage of the fact that the children seemed to be willing to learn English. Normally they would only start having English lessons at school in the 3rd grade.
I loved the idea and wrote a proposal in which I suggested a kind of play-group where children would simply start to get in contact with the language in a playful way. The day we went to the school and presented the project to the other English teachers and the principal, I had a very strange experience. They all were against the project for two main reasons. First, they were very concerned about how disruptive the children would be in class in the 3rd grade, once they realized that they already knew some of the material being taught. And second, because they thought a non-native teacher would "spoil" the children’s accent for good.
I was speechless. Aren’t we supposed to teach the students and not our lesson plans, meaning that we should always try to adapt our lessons to the students’ needs and not the other way around? This way, we could always find a way of teaching the same material, if necessary, without the lesson being repetitive and boring, thus creating disruption in class. Also, isn’t it very strange to be concerned with accents, in a world where globalization makes sure that English is used everywhere and not only in places where it is the original language? Much to the dissatisfaction of those teachers, the course happened, it lasted two years and it was a great success.
But apart from this strange experience, I have also had some very pleasant moments teaching in Germany. Adult students here are very hard working and take their learning very seriously. They will happily try out the suggestions you give and as they notice their command of the language improving, they are very grateful for our contribution as teachers. I don’t think they used to have very communicative lessons in the past so, at the beginning of an adult course there is always a bit of unease. They don’t know if you mean it seriously when you ask them to stand up, move around and find a pair, for example. But as soon as they notice that it is indeed possible to have fun and learn at the same time, they became very enthusiastic learners. Seeing these adults relaxing, smiling and having fun with their English learning process is definitely making my teaching here worthwhile.

domingo, 30 de março de 2008

Carta à Salvador

Bremen, 29 de Março de 2008

Querida Salvador,


Hoje faz quase três meses que eu fui embora e desde o dia em que saí daí, já senti saudades de você. Sei que nos meus últimos dias por aí nao fui exatamente a melhor das companhias; reclamei muito, só pensava em Bremen e devo com certeza ter sido injusta com você em muitos momentos.

Por isso resolvi te escrever. Pra te falar que apesar dos meus humores normais de ser humano, que apesar de parecer sempre insatisfeita quando estou com você, reclamar de suas ruas, de seus prefeitos, de seus pivetes, de seu estranhamente adorado Pelourinho (alguma coisa na minha alma negra ainda se contorce de dor toda vez que passo por ali) eu te amo muito e sinto muito sua falta.

Vivi muitos anos de minha vida com você e depois que desejei ver outras cidades, conhecer outras culturas, pisar outros continentes, descobri o quanto te amo de verdade. Toda vez que volto, me sinto completamente acolhida, bem recebida, totalmente envolvida no seu calor que não sei como, eu adoro. Depois de 31 anos de vida, ainda me emociono muitas vezes quando passo pela igreja de Santana no Rio Vermelho em direção a Ondina. Aquele mar, e o céu azulíssimo faz qualquer pessoa passar a acreditar que algo maravilhoso e extraordinário existe neste mundo. Adoro a descida da Contorno, com seu mar imenso, seus prédios antigos do outro lado, seus barulhos indicando que tem vida, muita vida ali.

Você é minha cidade mãe, que me ensinou a falar assim, quase cantando e que tem essa gente linda que trabalha feito cão, mas que sempre, sempre tem um tempinho pros amigos, pra um cineminha, uma prainha, uma cervejinha. E onde tudo é assim mesmo carinhosinho, no diminutivo. Te amo minha cidade, você é mesmo minha salvadora. E apesar de estar me entendendo cada vez melhor com Bremen, quero que você saiba que ninguém me acolhe, recebe e entende como você. Com você sou verdadeiramente quem eu sou: Cris Oliveira, professora de inglês, mulher de muitos amigos, meio maluca, amante de acarajé e cerveja gelada, frequentadora de Dinha, sofredora do Baêa sem "h" e orgulhosa de ser sua filha.


P.S. Feliz aniversário.


quarta-feira, 26 de março de 2008

Feliz, feliz...

Ontem recebi a notícia de que tinha me saído muito bem no TestDaf. Hoje recebi a confirmacao de minha matrícula na universidade. Reconheceram um semestre automaticamente e ainda tem a possibilidade de ter outras matérias reconhecidas!!! Tá parecendo que chegou a minha vez: Vou jogar na Loto amanha...

segunda-feira, 24 de março de 2008

Primavera


A primavera em Bremen comecou oficialmente dia 21. As primeiras flores aparecem muito devagarzinho mesmo... Devem estar, assim como nós, meio sem vontade de sair nesse vento frio, nesse tempo chuvoso, as vezes com neve e chuva de granizo. Todos por aqui reclamam que o inverno nao é frio o bastante e agora na primavera, todos gostariam de ver o sol e flores, muitas flores.
Ainda me lembro da primeira vez em que de fato vi a primavera aqui. Depois de ter vivido nesta cidade por quase quatro anos, estava de saco cheio da Alemanha. De malas prontas, só pensava mesmo em voltar a minha terra, onde primavera nem existe. E mesmo assim, me vi conversando com um amigo alemao, que admira todas as estacoes do ano com igual loucura, e em algum ponto da conversa ele falou o seguinte:
- Você já viu como a primavera está chegando este ano? Nunca vi nada igual... Olhe pra essas cerejeiras como estao floridas... que tons de lilás... lilás é uma cor da qual as pessoas quase nunca falam. A última vez que vi uma cerejeira florida assim foi a exatamente um ano atrás.
Meu amigo estava tao absorvido em seus pensamentos, admirando e falando das plantas e sua cores, que nao pude deixar de colorir meu olhar pra esta cidade. E foi de fato a primeira vez que percebi, que por mais que estivesse louca pra entrar naquele aviao que me levaria de volta ao meu mundo, iria sentir muita falta de Bremen.
Ah, a primavera... eu aprendi muito sobre ela ainda muito menina, na escola. A gente sempre aprendia sobre todas as estacoes do ano. A forma totalmente fora de contexto, importada de países muito mais frios que o meu, na qual meus textos didáticos a ilustravam, presenteávam-na com uma aura etérea, mágica, colorida, irreal para mim. Depois de vir parar aqui, aprendi o que aquilo tudo significava. 

Aquela conversa com meu amigo alemao, que cresceu vivendo a primavera a cada ano, mas que ainda assim a reconhecia e admirava, me fez sentir um pouco fútil, meio blasé com as belezas do mundo e foi impossível evitar a tao conhecida culpa: como foi que eu consegui estar aqui, por quase quatro anos, e nunca dar o devido valor a cada flor que desabrochava depois de um longo inverno. Como foi que consegui simplesmente continuar meu caminho automático pro trabalho a cada dia, sem perceber que árvores completamente secas por causa do terrível inverno, de repente adquiriam uma penugem verde clara que se tornava cada vez mais densa, até que um dia um flor, com o mais contrastante rosa, vermelho, amarelo ou lilás aparecesse nelas.
A primavera em Bremen é algo muito mágico. Ela é muito esperada por todos, por que com ela vem nao só as cores, mas também, os dias nos quais apesar do frio, o sol brilha intensamente e por muito mais tempo. A primavera convida a um passeio no parque, a um sorvete com a família, as brincadeiras na rua. Os dias se tornam mais longos e as pessoas sorriem umas para as outras sem razao. Este ano a primavera parece nao querer chegar em Bremen. Isso aumenta a ansiedade geral. E pro alemao, tao acostumado a ter tudo certinho e planejado de acordo com um calendário rigoroso, vem uma inquietacao com a qual é difícil de lidar. A primavera tem de estar aqui a tempo, na hora marcada, como de costume. Que se dane o efeito estufa e todas as catástrofes ambientais!!! Deve ser por isso, que hoje pela manha, percebi vários carros da prefeitura carregados de flores de diversos tipos e cores circulando pelas ruas. E mais tarde, essas mesmas flores estavam plantadas, da forma mais ordeira possível, pelos diversos canteiros da cidade.

quinta-feira, 13 de março de 2008

A Arte da Grosseria

Certos tipos de comportamento sao inaceitáveis e a depender dos ânimos dos envolvidos podem até levar a confrontacao física. Todo mundo concorda que nunca se deve colocar a mae de ninguém no meio se a intencao nao for partir pra briga. No entanto, salvo esses graves extremos envolvendo família, religiao e time de futebol, como saber qual o limite do ouvir calado e do partir pro ataque com mae e tudo? A resposta pra isso é outra vez muito cultural.

Aos poucos venho percebendo que ser grosso tem hora, lugar e situacao certa e que essas variáveis sao bem diferentes no Brasil e na Alemanha. Pra falar a verdade, acho que variam inclusive dentro do próprio território nacional. Aqui já me aconteceu de deliberadamente ser grossa com alguém, que pareceu nao se ofender nem um pouquinho e outras situacoes nas quais eu pensei "oops, nao devia ter dito isso. Agora o bicho vai pegar" e no final nao teve nada.Mas ao mesmo tempo já achei que estava falando a coisa mais normal do mundo e do outro nao gostar muito do que ouviu. Essas coisas muitas vezes sao pessoais, mas aqui em Bremen podem ter certeza, grosseria é uma arte.

Me lembro bem do dia em que, durante uma aula, comecamos a falar da biblioteca central da cidade que na época tinha sido reformada e estava lindíssima. Alguns alunos concordaram e um determinado rapaz disse nunca ter colocado os pés na tal biblioteca. Imediatamente, uma colega de classe revidou: "Conte-me uma novidade. Quem nao sabe que você é mesmo analfabeto?". Esses alunos se conheciam há nao mais de que um mês, entao eu fiquei totalmente tensa, me coloquei em guarda, pronta pra agir e tentar graciosamente por fim a discussao, que na minha cabeca, já era mais do que certo que iria acontecer. No entanto, o rapaz deu uma olhada feia para a tal colega e a situacao acabou aí. O mais interessante é que logo depois, numa atividade em pares, eles trabalharam juntos sem problema e concluíram a tarefa sem maiores conflitos ao ponto de fazerem "high five" no final quando constataram que acertaram a maior parte do exercício.

Esses alemaes me confundem. Acho que o grande problema aqui é mesmo o grito. Nao se deve falar alto, porque isso sim, assusta. Se você gritar elogios a alguém, a pessoa provavelmente nao saberá o que fazer e vai remoer aquilo por meses. No entanto um bom insulto num tom de voz agradável tem seu lugar. É bem ouvido, processado, avaliado e superado rapidamente. Acho que depois de tantas guerras o subconsciente coletivo por aqui simplesmente endureceu. Se preparou pra aguentar tudo, ser ofendido e humilhado. Desde que, é claro em decibéis aceitáveis.

P.S No livro “How to be a Kraut” do jornalista inglês Roger Boyes, ele fala também sobre isso. Segundo Boyes, Berlim nao só é a capital da Alemanha, como também é a capital européia da grosseria. Ele aconselha inclusive evitar demonstracoes de fraqueza, como dizer "Boa tarde", "Por favor" e etc, quando vocês forem a essa cidade. O livro é tipo "Um Brasileiro em Berlim" de Joao Ubaldo Ribeiro, ou seja, um conjunto de crônicas sobre a vida aqui na Alemanha porém sob o ponto de vista de um inglês e é hilário. Se tiverem a oportunidade, leiam.

sábado, 8 de março de 2008

Dia Internacional da Mulher

Uma de minhas cantoras favoritas disse tudo:


Pagu
Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão

Eu sou pau pra toda obra, Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta, não sou freira nem sou puta
Porque nem toda feiticeira é corcunda,
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone,
Sou mais macho que muito homem

Sou rainha do meu tanque, sou pagu indignada no palanque
Fama de porra-louca, tudo bem,
Minha mãe é Maria-ninguém

Não sou atriz, modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima
Porque nem toda feiticeira é corcunda,
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone,
Sou mais macho que muito homem

 Rita Lee 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Tudo igual, porém diferente

Semana passada comecaram as aulas aqui em Bremen. Pra mim isso é sempre um mega evento. Mesmo com pouco mais de uma década de ensino, eu ainda tenho calafrios e noites mal dormidas dias antes do início de um novo semestre escolar. Voces podem imaginar meu estado semana passada, quando o início do semestre representava ao mesmo tempo nao só os habituais livros novos, alunos novos, níveis novos, mas também outras nacionalidades e seus nomes muitas vezes complicados de pronunciar, nova escola, nova cidade, novo país, nova cultura, nova língua. Pra minha sorte, comecei com pé direito. Minhas turmas sao extremamente legais e motivadas. Mas as comparacoes Brasil X Alemanha sao invitáveis.

Ensinar em Bremen ou em Salvador pode ser tao parecido a ponto de ser decepcionante. Uma pessoa que voa milhas de distância para ter uma experiência profissional diferente pode se frustrar ao perceber que aluno alemao iniciante erra exatamente as mesmas coisas que aluno brasileiro. É um tal de "he go", "she do", "it have" que as vezes dá vontade de arrancar os cabelos. Ponto para os linguistas que dizem que essa é "the bitchiest of all forms to acquire". Eu usei aqui o termo técnico para a satisfacao de meus colegas professores de inglês.

As diferencas sao sutis, porém marcantes. A primeríssima delas é ter de educadamente perguntar a todos no início da aula se o tratamento pode ser coloquial. Basicamente deixar bem claro, ja desde o início, que você prefere ser tratada por você e que você espera poder tratá-los da mesma forma, sem a palhacada desnecessária de Senhor ou Senhora que teoricamente deveria denotar respeito, mas que hoje em dia me parece sem sentido depois de já ter visto muita gente ser xingada logo depois de ter sido respeitosamente chamado(a) assim.

A segunda diferenca é o número de nacionalidades diferentes em cada turma. Quanto mais avancado o grupo, mais interessante é a aula, pela possibilidade de poder trocar muitas experiências e pontos de vista diferentes que decorrem das diversas culturas presentes na sala. Toda vez que aparecia alguma pergunta de contraste de culturas nas salas de aula em Salvador, era sempre meio artificial. Claro, sempre tinha um aluno ou outro que já tinha vivido ou viajado pelo exterior e podia também contribuir com a discussao, mas no geral era bem estranho comparar acarajé com pao de queijo ou baiao com xaxado.

Aluno alemao no geral faz dever de casa, gosta de anotar o que o professor escreve no quadro, ouve atentamente cada palavra do professor e traz o livro no primeiro dia de aula. Por outro lado, quando o professor leva uma música pra aula, tem de ir preparado pra dar uma aula extra sobre "skills", "listening for specific purposes" e etc senao Heidi, Ulrike, Hans e co. vao querer saber exatamente qual o significado do "Oh Oh Oh" na linha 2 da terceira estrofe. E cantar, nem pensar!!!

Nao sei exatamente o que acontece nas aulas de inglês nas escolas por aqui , mas a maioria dos adultos parece ser bem traumatizada com língua estrangeira de forma geral. Se falam alguma língua com fluência, sempre dizem que nao falam muito bem e muitos se recusam mesmo a falar. Uma vez um aluno me perguntou se sua pronúncia me irritava. Segundo ele sua antiga professora do ginásio dizia sempre na sala que a pronúncia de todos eles era de doer os ouvidos. Outro aluno uma vez me mostrou seu dever de casa: uma lista de aproximadamente 50 palavras que ele deveria decorar com as respectivas traducoes para um teste que seria feito em duas semanas. Assim fica fácil entender os traumas e dá também pra entender porque os alunos que vem para cursos de língua chegam meio amedrontados, sem saber ao certo o que fazer quando você manda levantar, achar um par, falar um com o outro.

Depois que eles percebem os resultados e constatam que estao entendendo mais e se expressando melhor, ficam eternamente agradecidos, colocam o professor no mais alto pedestal e dao batidinhas na mesa no final da aula. Sim, essa foi mais uma novidade que aprendi ensinando aqui em Bremen: Se o aluno gostou da sua aula, no final ele dá umas batidinhas na mesa, assim como quem bate na porta pra entrar na casa de alguém. É sempre muito gratificante apesar do susto que se toma a primeira vez que isso acontece e você está desavisado.

Entao é isso aí. Quem quiser se aventurar a ensinar aqui, é uma experiência que vale a pena e eu recomendo. Só faca questao de vir preparado com muita paciência e amor pros traumatizados, um vocabulário vastíssimo e atualíssimo para os super detalhistas, memória fresca para lembrar que na sua turma tem Kirsten e Kestin, Helge e Heinke, Hans-Peter e Karl-Peter e vocês estarao bem. Enfim, tudo igualzinho como no Brasil, só que um pouquinho diferente.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

De professora a atacante

Aqui estou na terra dos Saltimbancos a pouco mais de um mês e devo confessar que estou muito feliz! Pra que ninguém estranhe, deixa eu explicar: ainda é meio difícil ser feliz aqui nesse lugar cheio de palavras enormes, de gente que acredita que muito banho estraga a pele e que brasileiro nao pode ser professor de inglês. Mas estou conseguindo e muito facilmente, apesar das experiências estranhas que insistem em acontecer aqui em Bremen.

Uma delas por exemplo, aconteceu logo depois de minha chegada. Optei por voltar a universidade e pra comecar o curso tenho de provar um certo nível de proficiência em alemao, através de um exame de língua. No biggie, na minha profissao a gente se acostuma com essas coisas, entao me matriculei num curso preparatório e tenho estudado bastante. Estou bem compromissada com isso, caí de cabeca nos estudos. Somos 8 no curso preparatório. Todos querendo um diploma alemao pra ter melhores chances no mercado de trabalho aqui, todos acadêmicos ou aspirantes a tal, inteligentes, bem vividos, mente abertas, internacionais. Assim se imagina, né? Mas foi aí mesmo neste curso preparatório onde eu vivi o primeiro momento estranho de Bremen 2008.

Numa conversa com uma colega de curso, ela me pergunta de onde eu sou, o que faco, porque vim parar em Bremen. Conversa que mais parece um interrogatório, mas essa é small talk alema. Mesmo minha colega sendo assim como eu, estrangeira aqui, tem certas coisas do local que se aprende rapidinho. Até aí tudo bem. Depois ela me pede licenca pra contar uma piadinha que aparentemente ela ouve o tempo todo por aqui. Eu me arrependo de ter dado a tal licenca e ela prossegue dizendo: "Por aqui existe um ditado que diz que todo mundo que vem do Caribe ou da América Latina sempre se diz ou engenheiro ou professor."Vocês podem me dizer o que vocês responderiam? Porque eu nao soube o que dizer. Minha resposta foi apenas o básico sorriso amarelo, que nunca falha nesses momentos e nenhum comentário.

Fui pra casa remoendo essa estória, me sentindo injusticada como pessoa, como profissional e como latina!!! Alguns acham que brasileiro, principalmente bem sucedido, no exterior, sempre provoca um certo ressentimento. Brasileiro afinal, nasceu pra jogar futebol e sambar. Eu que nunca fui passista de escola de samba e nao sei nem de que lado fica o gol, insisto em dizer que sou professora quando me perguntam minha profissao. Se a teoria do ressentimento estiver certa, pelo menos isso esclarece o motivo pelo qual as pessoas sempre me interrogam depois de ouvirem isso. Sério mesmo. As cabecas alemaes acostumadas com Goethe e Nietzsche parecem nao entender como uma brasileira aprendeu inglês no Brasil, sem nunca ter morado em nenhum país de língua inglesa, feito universidade e comecado a ensinar inglês. Eu cansei de tentar explicar. Devo comecar a dizer que sou jogadora de futebol?