Semana
passada eu declarei aqui meu amor por minha cidade e revelei o quanto
tenho estado triste com as cenas de descaso que venho encontrando por
aí. Esta semana vou falar de outra coisa negativa que tem chamado
minha atenção no meu retorno
à Salvador. A crescente falta de educação
do soteropolitano.
Antes
de eu começar, deixa eu
esclarecer uma coisa. Pra quem ainda não
sabe, eu vou repetir algo que não
canso de dizer: Eu amo Salvador. Uma cidade não
é composta apenas de suas belezas naturais e arquitetônicas. Boa
parte do que faz uma cidade ser o que é, são
seus habitantes, então eu
adoro meus conterrâneos também. Nós soteropolitanos, temos um
jeito de falar gostoso, somos muito engraçados,
muitas vezes até sem querer. Somos barulhentos, criativos, cheios de
charme e cheios de vida. Somos carinhosos e temos formas bem
peculiares de demonstrar nosso afeto e senso de humor através de
nosso dialeto. Enfim, o soteropolitano é show e eu adoro fazer parte
desse grupo. O que eu não
gosto é de perceber que nossas boas qualidades tem ficado cada vez
mais guardadinhas num cantinho bem secreto e nosso lado sombra anda a
solta pela cidade.
Tenho
ficado chocada com as cenas de mais pura rudeza com as quais tenho me
deparado por Salvador. Outro dia fui ao banco com minha mãe,
que tem necessidades especiais. A fila preferencial estava longa, mas
tinha cadeiras suficientes para todos. Quer dizer, teria se uma
senhora não estivesse sentada em duas cadeiras. Infelizmente idade
avançada não isenta a pessoa da falta de educação e a tal senhora
não só se recusou a se sentar em uma cadeira apenas, como começou
uma briga com quem questionou sua atitude.
Tinha
ido em uma loja que ficava em uma rua sem saída. Quem estaciona na
frente dessa loja tem de sair de ré, porque a rua é apertada e não
há espaço suficiente para fazer manobras. Até aí tudo bem, nessa
rua só tem essa loja mesmo e quem vai lá sabe disso. O único
problema é quando o cara do carro da frente se recusa a entender que
para ele sair mais rápido, o mais lógico é esperar que o carro que
está atrás dele saia primeiro. Estavamos todos lá, uma fila de
carros, tentando sair ordeiramente, respeitando o princípio primeiro
o que está mais próximo da saída e assim sucessivamente, quando o
apressadinho da minha frente, decide que a necessidade dele de sair
daquele lugar é maior do que a todas as outras pessoas e vai saindo
simultaneamente, criando assim uma fila dupla apertadíssima e
inúmeras situações de susto, raiva e aperto pros outros
motoristas. Fiquei sem palavras, ao que minha mãe me relembra,
"Melhor ficar sem palavras mesmo. Hoje em dia as pessoas sacam
armas e atiram nas outras por qualquer desentendimentozinho no
trânsito". Lamentável, mas verdade.
Faz três semanas que eu estou de volta e nesse pouquíssimo tempo já
presenciei dezenas de situações de indelicadeza que fizeram meus
cabelos arrepiarem. É um festival de pessoas jogando latinha de
cerveja pela janela do carro em movimento, correndo com o carrinho de
supermercado cortando pessoas e atropelando quem vem pela frente pra
chegar antes na fila, se aproveitando que alguém está segurando a
porta da loja aberta e entrando rapidinho sem nem olhar pra cara da
pessoa que segurou a porta ou dizer um obrigado. A lista da falta de
consideração com o próximo é imensa e me enche de tristeza e
vergonha alheia. Aliás, nem sei se posso chamar de vergonha alheia,
já que eu faço parte desta cidade.
Resolvi
me tornar uma pessoa extremamente atenta. Estou fazendo questão de
ser ainda mais cordial, paciente e sensível no meu trato com as
pessoas que encontro por aí, na esperança de que minha atitude crie
uma espécie de efeito dominó e talvéz quem sabe um dia, uma
mudança de atitude nessa cidade.
Mas
aí deve ter gente que vai pensar "Quem ela pensa que é pra
achar que vai mudar uma cidade?" Né bem por aí, não viu
galera. Eu sei que eu sou apenas uma pessoa bem normal. Mas é que eu
acredito que todas nós pessoas normais temos o poder de mudar o
mundo de pouquinho em pouquinho em pequenos gestos nada fora do
comum. O que eu vou dizer agora é bem cliché, mas como a gente
tende a esquecer não custa nada repetir. Se eu conseguir ser gentil
com uma pessoa que eu encontrar no meu dia, pode ser que essa pessoa
trate o próximo que encontrar da mesma forma, afinal
gentileza é bom e todo mundo gosta não é mesmo? Imagine aí: eu
sou gentil com você, que é gentil com seu vizinho, que é gentil
com a vendedora da loja e assim por diante até que essa onda de
gentileza se espalhe pela cidade inteira. Impossível? Né nada! eu começo daqui, você começa daí e a gente vê.
Olá! Tudo bem? Sempre leio o teu blog, mas acabo nunca comentando. :)
ResponderExcluirA questão é que o Brasil sempre foi assim, talvez esteja de fato um pouco pior nos últimos anos. Creio que o que mudou de fato foi a tua visão, que passou a perceber mais a falta de educação daqui, por estar acostumada com o respeito e educação dos alemães.
Quando morei na Alemanha por 1 semestre e retornei ao Brasil, tive um verdadeiro choque ao retornar. E eu fiquei pouco tempo fora. Comecei a perceber como nossas estradas são deterioradas, como nosso transporte público é defasado e mal administrado, como as ruas são remendadas, calçadas esburacadas, povo mal-educado, cidade suja e barulhenta, faltam ciclovias, faltam boas calçadas e nunca havia percebido como as pessoas atravessam a rua antes, dentre muitas outras diferenças. Infelizmente, falta muita educação para o nosso povo, falta ordem, rigidez nas regras e vontade de mudar.
É triste perceber que um país com tanto potencial, fica eternamente patinando no atraso. O que nos resta é manter a pontinha de esperança de que o Brasil tem jeito. Bjão! :)
Oi Lorena,
ExcluirMuito obrigada pela leitura e pelo comentário. Olha, eu concordo com você que foi minha visao que mudou. Até mesmo porque a gente tende a enxergar nosso próprio pais/cidade de forma mais crítica quando a gente se afasta dele. E mesmo que seja pouquinho já dá pra sentir a diferenca. Assim como você comentou, eu também fico super triste de ver o potencial mal aproveitado de nosso país. Mas tenho confianca também de que um dia a gente muda esse quadro. pode nao ser uma mudanca que minha geracao ainda vai ver, mas um dia, com certeza...