Um
dia,
recebi uma ligação de Lubi perguntando se eu estava com tempo.
"Sim,
claro. Pode falar" e ele começou a me contar uma estória longa
que a princípio eu não sabia bem onde ia chegar. Contou que lá no
instituto onde ele trabalha, tem uma atividade chamada "Cinema
Comentado". Nessa atividade, os jovens assistem um filme e
depois discutem sobre os temas abordados. O filme escolhido pela
equipe de educadores tinha sido "Escritores da Liberdade"
(Freedom Writers) de Richard LaGravenese. Como eu até então ainda
não conhecia o filme, ele prossegiu me dando um resumo do que se
tratava.
O
filme não é nenhuma super produção cinematográfica, mas
impressiona por ser um estória surpreendente, baseada em fatos
reais. Ele mostra uma professora jovem, recém-formada e bastante
idealista, que vai trabalhar em uma escola multicultural na
Califórnia em uma época (1992) em que os Estados Unidos estavam
fervendo com conflitos raciais. Os alunos de sua turma, são (em sua
grande maioria) adolescentes em situação de risco que só
concordam um com os outros em duas coisas: primeiro, que todos os
outros são inimigos e segundo que a escola é uma merda. Nesse
cenário pra lá de hostil pra qualquer processo educacional, ela
consegue ajudar esses jovens a mudar de atitude a ponto de virarem
escritores.
Não
queria mais contar tanto sobre o filme, porque acho que vocês
deveriam assistir. É fantástico e inesquecível. É um desses que
antes de começar a ver, a gente tem de ter certeza de que se tem
muuuuuito lenço de papel por perto. Mas pra que eu possa explicar
como essa experiência foi especial pra mim, tenho de contar um
pouquinho mais sobre a história do filme, então quem não quiser
ter o fator surpresa estragado, pare de ler agora . O que vem a
seguir são spoilers.
Os
jovens, no filme, são estimulados a ler um livro cuja história se
passa bem distante da realidade deles, tanto no tempo, quanto
geograficamente falando. No entanto, por também se tratar de uma
história verídica, ela de certa forma se relaciona muito com a
deles. Eles, então
escrevem cartas para uma personagem fundamental da estória
e conseguem fazer com que sejam recebidas e lidas. Como se isso não
fosse o bastante, conseguem trazê-la para uma conversa com eles.
Lubis
me explicava tudo isso ao telefone e eu só no "ahãn",
"sério?" "nossa" "que bacana" sem
compreender direito onde ele queria chegar. Até que ele finalmente
chega: "Então, nós levamos seu texto "Lidando com o racismo"
pra ler e debater com os meninos lá no instituto". Isso gerou GEROU
uma série de discussões sobre o tema e aí surgiu a idéia de
replicar com eles o ocorrido
no filme.
O
que aconteceu depois foi simplesmente inacreditável.
Recebi
mais ou menos 50 cartas à moda antiga, escritas com caneta e papel,
com direito a envelopinhos coloridos, adesivinhos, coraçõeszinhos e
floreszinhas desenhadas. Me emocionei. Isso é raro de se ver hoje em
dia.
Como
se isso já não fosse honra bastante, fui convidada a ir lá,
conversar com eles. E o que aconteceu naquele dia, foi muito tocante.
Tanto que vou precisar de mais um post pra contar pra vocês tudo que
me marcou naquele dia.
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