domingo, 27 de julho de 2008

Do jeito que se veio ao mundo

No meu aniversário esse ano resolvi fazer algo diferente do que sempre faço em aniversários e me mandei pra um Spa perto de Leipizig. Aqui na Alemanha existem uns vilarejos no fiofó do mundo que por serem muito retirados e basicamente não terem atrativo nenhum, acabam se resignando a serem retiros. Essas cidades recebem a denominação de "Bad" e se tornam o destino de pessoas interessadas em se isolarem por razões diversas: meditação, tratamentos psicológicos, tratamentos de beleza, terapias anti-stress, o escambáu. São lugares onde o maior agito é o som dos pásssaros cantando pela manhã e das árvores sendo agitadas pelo vento durante a noite. Por isso se alguém convidar vocês para visitar uma cidade cujo nome seja Bad- alguma coisa, tenham medo.

Enfim, fui para Bad Düben com meu amor, rumo a uma estadia de dois dias em um hotel-spa encravado no meio de um bosque lindo e onde, como já expliquei , não tinha nada pra ver nem pra fazer a não ser relaxar e ... o hotel era lindo e eu nem desconfiei de nada quando o recepcionista nos entregou o mapa do hotel e eu vi na legenda uma coisa chamada "Bademantelgang" (caminho do roupão). Nos acomodamos e fomos explorar a área. Muito verde, piscinas e saunas de todos os tipos imagináveis. Resolvemos começar aproveitando as saunas e quando tirei meu roupão e meu amor viu que eu estava de biquini, ele me informa, para meu terror, que eu teria de me despir completamente. Minha pergunta: "Como assim?" resposta: " Nessa área do hotel só pode ficar pelado." Minha reação: "Hã?"Depois de muita discussão do tipo tira-não-tira-o-biquini, resolvi a contra-gosto vestir a fantasia de Eva, mesmo sem entender o porquê de se ter de estar como se veio ao mundo para poder ir à sauna.

Aqui na Alemanha as pessoas não precisam de muita desculpa pra deixarem cair as toalhas e revelarem suas coisas sem o menor constrangimento. Eu já tinha entrado em contato com essa nua realidade em diversos parques, piscinas e lagos por aqui onde as pessoas (prestem atenção!) tomam banho de calção e biquini e antes de irem embora, tiram a roupa ali mesmo na frente de todo mundo, vestem a roupa seca e vão embora. Meu amigo-irmão Lubisco, que já morava aqui antes da minha primeira chegada em 2002, me alertou para isso. Ele chamou minha atenção para um interessante paradoxo que acontece por aqui: você reconhece as brasileiras nas piscinas pelos biquinis minúsculos que pouco deixam para a imaginação. Os alemães ficam horrorizados com nossa economia têxtil, mas acham a coisa mais natural do mundo tomarem sol sem a parte de cima do biquini e ficarem desfilando sem roupa por aí.

Confesso que meu constragimento em Bad Düben durou apenas meia hora. Depois disso eu nadei, feliz da vida com minhas coisas sendo exibidas livremente. Me senti a própria protagonista da Lagoa Azul. Hoje em dia estou convencida de que roupa é uma bobagem. Pra falar a verdade estou escrevendo esse texto agora mesmo da mesma forma como vim ao mundo. Quem me acompanha nessa?

Entre o português e o alemão

Meu computador está de brincadeira comigo e nao está permitindo que eu acentue devidamente. Irônico que justo nesta postagem sobre meus devaneios linguísticos nao vou poder usar nem til, nem cedilha. Mas o objetivo final da linguagem é a comunicacao. Se para isso o falante nao dispoe de um certo recurso ele acaba se virando com outro. O importante é comunicar. Vou me comunicando por enquanto com acentuacao precária mesmo. Fico na esperanca de que a mensagem seja compreendida apesar de tudo.

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Para alemao literatura é ciência. Danca é competicao ou esporte. Para mim, literatura e danca sempre serao arte. Para brasileiro, jogar e brincar sao duas coisas diferentes. Em alemao, a palavra spielen coloca os dois verbos no mesmo saco. Se tudo é a mesma coisa, por que será que por aqui nao se veêm jogadores como Ronaldinho Gaúcho ou Garrincha que sabem jogar brincando?

Na língua alema estudar e aprender é uma coisa só: lernen e ponto. Seria muito bom se cada vez que um alemao sentasse pra estudar ele pudesse mesmo garantir que aprendeu. E por fim, será que alguém aí pode me explicar por que é que numa cultura na qual as mulheres sao tao fortes a gramática permite que o homem e o menino sejam masculinos (der Mann, der Jung) e a menina (das Mädchen) tem de ser neutra?

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Leiam também o post Lost in Translation onde eu deliro a respeito de coisas parecidas.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Letter to a Younger Me

From: Cris aged 32
To: Myself aged 15

Dear Cris,

First of all, happy birthday!

I bet you are surprised I'm writing to you, but I thought that hearing from me now would make your life a lot easier in the future. You are a very hard-working and intelligent young woman and you'll be very successful in your life, if you learn not to give up what you start. That's why I advise you to think twice before dropping that English course you've been complaining so much about. I know when you started learning English, it was supposed to be a hobby and at the moment it's just not fun anymore. But hang in there and you'll end up with a beautiful career, which will teach you a lot about people and more importantly, it'll teach you a lot about yourself.

Never forget how old you actually are. Right now, what I see is a teenager trying to be an adult at all costs. You always try to be older than you really are. Forget this! Enjoy your age. You are truly very young and you should act so. That means you should be sillier, angrier, rebel more and make more mistakes! Believe me, people who matter will love you not only despite your mistakes, but also because of them.

Stick to your plans, support your own ideas as crazy as they may seem and speak up if you wanna be heard. Believe me, you're not the only one feeling what you're feeling or thinking what you're thinking, so don't be afraid. Don't always do things in a rush. Instead of doing things trying to get rid of them so that you can go ahead and do something else, try doing less, but taking your time and enjoying what you're doing.

Have confidence in yourself. When I look at you I see a strong, intelligent person who is just too insecure to speak your mind, so you end up pleasing everyone but yourself. That's just tiring!Think about yourself for a change. Let your parents worry about you. You are the child and they are the adults. Don't try to switch places with them.

And finally, don't wear neon coloured leggings, jackets with shoulder pads or New Wave Glitter Gel on your hair. It doesn't matter what Capricho magazine says. It simply doesn't look good and you'll totally regret it later.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Coming next...


Meu próximo post vai ser bem cara-de-pau. Um post meu para mim mesma em minha própria homenagem. Não tive um ataque de narcisismo, não. A estória é a seguinte:

Um dia desses aí eu achei o site de um livro muito fofo. O título é "What I Know Now: Letters to My Younger Self". Trata-se de uma coletânia organizada pela jornalista americana Ellyn Spragins. Nesse livro ela entrevista diversas mulheres famosas de diversas formas de fama, como por exemplo a cantora Macy Gray ou a ex-secretária de estado do governo Clinton, Madeleine Albright. Nessas entrevistas, ela primeiro situa o leitor pra que tipo de mulher é aquela que está sendo entrevistada e um pouco de sua estória de vida. Depois ela pergunta às entrevistadas o que elas diriam à si mesmas, se elas pudessem fazer essas mensagens viajar no tempo. Depois disso as entrevistadas são convidadas a escrever essas mensagens como cartas para elas mesmas mais jovens. As cartas não chegarão à destintária é óbvio, mas com certeza as mensagens vão acabar tocando os corações de muitas outras mulheres.

O mais lindo desse livro, no entanto, é saber que parte da verba arrecadada com sua venda vai pra ongs engajadas em causas para benefício de mulheres no mundo todo. Cada ano eles elegem uma ong e uma causa diferente. Além disso é lindo ver que as cartas, escritas por mulheres tão diferentes dão a impressão de que nós todas vivemos os mesmos dramas pela vida. Elly Spragins disse que o objetivo dela com essa coletânia é inspirar mulheres. Pois é, eu me inspirei. Fiquei pensando em como seria maravilhoso se eu pudesse de fato fazer uma carta assim chegar até minhas mãos quando eu era tão jovem e confusa e tudo era um drama enorme. Iria com certeza ser uma experiência estranha e divertida. Minha carta para minha younger self vem aí no meu próximo post.

Eu sei que essa estória parece água com açúcar, auto-ajuda, blá blá blá. Mas como diria o finado Raul Seixas: "Quando uma flor é uma flor e não tem outro jeito da gente dizer, pra que mentir, quando eu sei, eu sei que eu quero mesmo é cantar iê iê iê, eu quero mesmo é falar de você, eu quero mesmo é falar de amor, eu quero mesmo é rimar amor com dor, eu quero mesmo..."

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Gentileza? Não, obrigada

No mundo de hoje ser gentil é difícil. Tive a prova disso umas semanas atrás. Estava num ponto de ônibus quando um senhor meio apressado chegou, me entregou um papelzinho dizendo “pode ficar com esse, eu tenho outro” e rapidamente entrou no ônibus. Percebei do que se tratava o tal papel ainda a tempo de acenar um “obrigada” para ele antes do motorista arrastar o ônibus. O tal papelzinho era um ticket de passagem, que valia por um dia inteiro no valor de 7,30 euros. 

A primeira coisa que me veio à mente foi se o ticket era válido mesmo, e era. Depois fiquei me questionando porque alguém daria 7,30 assim a um desconhecido na rua à troco de nada. Concluí que ainda existe muita gente boa neste mundo e fiquei feliz de ter recebido o ticket, apesar de que pra mim ele não iria fazer muita diferenca, pois eu também já tinha um. Cheguei à conclusão que seria um desperdício de dinheiro e de boa ação guardar aquele ticket entao resolvi passá-lo adiante. Cheguei perto da primeira pessoa que estava prestes a pagar a passagem ao entrar no ônibus e ofereci o ticket. O rapaz recusou muito educadamente dizendo que preferia pagar pela própria passagem.

Continuei tentando achar alguém que pudesse se beneficiar do tal ticket. A segunda pessoa para a qual ofereci, perguntou quanto eu queria por ele e quando eu falei que era de graça, ela simplesmente se afastou sem dizer mais nada. Teve uma menina que me olhou de cima a baixo e concluiu que eu nem era digna de uma resposta. Um senhor, me perguntou pra que eu estava tão interessada em passar aquele ticket adiante. Expliquei a situacao e ele disse somente: Não fique aé se preocupando não. Já que ninguém quer, jogue esse ticket fora! Ele também preferiu pagar a passagem a aceitar o ticket.

Realmente dessiti de tentar passar a passagem pra alguém. Voltei pra casa me sentindo mal com a sensação que gentileza desperta desconfianca, é uma coisa desnecessária e o melhor mesmo é guardar pra si. Que conclusão horrível! Eu insisto em acreditar que o mundo está repleto de pessoas boas. Ou será que eu sou muito boba e confio demais?