domingo, 22 de junho de 2014

Sem medo de ser triste

Escravo da Alegria é uma música de Toquinho e Vinicius que eu amo, mas que ultimamente tem me irritado um pouco quando escuto. A questão é que hoje em dia, ao contrário do que eles cantam, ser ou (pior ainda) parecer estar feliz, não só é normal como uma verdadeira obrigação. Só que aqui entre nós, isso é uma farsa que além de cansativa, ninguém aguenta manter.




Antes de continuar, deixa eu esclarecer uma coisa: A-D-O-R-O a alegria, acho bacana ser feliz e prefiro o riso ao choro, sempre. Na verdade, não tenho problema nenhum em dizer que me considero uma pessoa hilária e constantemente recebo confirmações disso através de meus amigos e conhecidos. Muita gente ri das besteiras que falo, me diz que eu sou engraçada etc. Minha sogra (vejam bem, MINHA SOGRA!!!) me chama carinhosamente de "Solzinho" porque segundo ela quando eu apareço todos sorriem. Que meigo, né? Pois é. Isso é a prova de que eu sou do time do alto-astral.



Mas mesmo sendo fã da leveza e da felicidade, eu ainda acho que o ser humano tem direito ao mau humor e mais importante ainda, à tristeza e à melancolia. Fazer de conta que esses sentimentos não existem faz mal à saúde e à qualidade dos relacionamentos que temos com outras pessoas. Ao meu ver, viver em um mundo no qual só se pode sorrir e ser feliz, mesmo quando nosso coração nos diz que estamos tristes, faz tão mal à alma quanto quando só se odeia, só se desespera, chora e se fala de coisas ruins.



Nossos sentimentos negativos também tem uma razão de ser. Sou a favor de tentar exergá-los de forma crítica, de tentar entendé-los e significá-los. Acredito que é simplesmente neurótico viver negando suas manifestações e que é mais saudável aceitar que eles existem tanto em nós quanto nos outros e que de vez em quando, temos de lidar com eles e senti-los mesmo.



É interessante que hoje em dia se fala tanto em ser feliz, existem tantos adeptos da alegria contínua e positividade incondicional e que no entanto as pessoas reclamem tanto da vida, dos vizinhos, do trabalho, das festas que frequentam, dos seus relacionamentos... Eu acho que isso é sintoma de uma sociedade meio fútil, que é obcecada com tudo que é rápido e superficial. Não dá tempo de ser ou sentir nada de verdade, só de parecer e de mostrar. Acaba que proibimos nossa tristeza de dar as caras e nossa alegria nem é assim tão feliz quanto parece.



Nossos sentimentos negativos são excelentes professores que se bem observados podem nos ensinar lições valiosíssimas sobre quem verdadeiramente somos. Só que para aprender suas lições é preciso paciência, determinação, disposição para refletir e ir fundo nas questões que vão surgindo desse contato. Mas isso custa tempo, dá trabalho e muitas vezes é doloroso. O que é uma pena, porque quando não negamos nossa tristeza, nossa raiva, nossas confusões, nossas vulnerabilidades, ficamos mais leves, mais completos, mais interessantes e até mais humanos. Sei lá, acho que até nossa felicidade quando vem, é mais autêntica.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Caridade

Recentemente um milionário estadunidense começou uma brincadeira de esconder dinheiro por Los Angeles e São Francisco numa espécie de caça ao tesouro. Tudo que se sabe dele é que tem entre 35 e 45 anos, que sua fortuna vem do setor imobiliário e que ele dá dicas sobre os lugares onde esconde o dindin através de uma conta no tweeter. Um amigo meu estava me contando que muitas das pessoas que encontram a grana, escrevem pra ele agradecendo e contando como usaram o dinheiro. A maioria acaba gastando pelo menos parte dela ou com outros participantes da caçada ou em outras boas ações.



Esse acontecimento acabou virando um assunto recorrente tanto em meu círculo de amigos como em minhas turmas. Comecei a ouvir muita gente criticando e questionando esse tipo de brincadeira e outras formas de caridade. Muita gente acha realmente ridículo e considera duvidosa a motivação por trás desse tipo de atitude. Um aluno iniciou uma discussão, que rendeu pano pra manga, na qual ele debateu calorosamente as questões morais por trás do que leva pessoas, principalmente em países desenvolvidos, a promover eventos de caridade chiquérrimos para arrecadar doações para alguma instituição. Outros deram exemplos de pessoas que fazem trabalhos voluntários só pra se auto-promover e posar de bom moço. Meteram também o pau nas pessoas que ajudam alguma organização somente com o intuito de ter uma coisa social pra colocar no currículo e com isso se destacarem no processo de seleção de alguma universidade de prestígio ou vaga de emprego concorrida.



Eu entendo as críticas. No mundo ideal, nossa motivação para ajudar o próximo deveria ser a mais pura bondade de nossos corações e o desejo genuíno de ajudar alguém e não só se aparecer ou o pensamento de que vantagens aquela experiência irá nos trazer. Mas isso seria em um mundo ideal, que todo mundo sabe, o nosso está longe demais de ser. Senti um certo incômodo durante toda aquela discussão e acabei por me fazer outro questionamento completamente diferente: por que a gente se apressa tanto em julgar a motivação dos outros?



Tudo bem, doar dinheiro pra uma organização porque a gente sabe que vai poder abater do imposto de renda pode até soar meio egoísta. Eu de fato acho uma pena que nós chegamos a um nível de egoísmo tal que ajudar alguém só entra em questão se pudermos de alguma forma tirar proveito da situação, mas ainda assim, eu nunca ouvi dizer que uma intituição de caridade já tenha recusado um cheque de alguém por que soube que a intenção de quem estava doando era meio mesquinha

Muitas instituições dedicadas a ajudar lidam com falta de recusos e não com excesso de doações e ajuda de pessoas egoístas, só interessadas em tirar onda. Uma vez entrei em contato com uma organização que eu queria ajudar e sem eu ter perguntado qualquer coisa, eles foram bem rapidinhos em me informar todas as vantagens que eu poderia ter ao dar minha contribuição. Ou seja, uma espécie de "pouco me importa qual a sua intenção, me ajude por favor! Vai ser bom pra você também".



Nosso mundo anda muito carente de boas ações. A gente passa muito tempo fazendo e se ocupando de inutilidades e enquanto isso as questões importantes do mundo estão aí se multiplicando e passando da hora de receberem atenção de verdade. Muita gente usa e abusa da capacidade de refletir e criticar. Nos habituamos a ficar procurando o que há por trás de tudo como se os eventos da vida fossem uma interminável fila indiana e nesse processo esquecemos de adicionar um pouco de ação ao processo todo. Nossa habilidade de pensar de forma crítica vira julgamento e já que esses julgamentos que fazemos dos outros quase nunca vem acompanhados de sugestões de como proceder melhor, o resultado é esse que temos aqui: uma classe média e elite mundial altamente arrogante super rápida ao julgar os outros, mas inerte, inútil e pouco crítica em relação a si mesma.



Talvéz eu esteja sendo ingênua em acreditar que se comprometer com a alguma causa ou com alguém que precise de ajuda seja mais importante do que os motivos que levam alguém a fazer isso. Eu prefiro ser ingênua do que amarga. Mas como sei que fazer julgamentos faz parte do ser humano, aqui vai o meu: acho a maior besteira essa mania de criticar tudo, e olha que eu adoro criticar também. Criticar é bom e todo mundo gosta, mas a gente precisa aprender a determinar prioridades. Já que não dá pra se ter boa intenção e boa ação ao mesmo tempo, permitam que pelo menos as boas ações continuem sendo feitas. E ao invés de ficar parado, só criticando motivações dos outros, que tal descer do pedestal, arregaçar as mangas e ajudar também?

sábado, 17 de maio de 2014

Outra discussão

Uma das coisas mais gostosas deste mundo é filosofar com os amigos. As boas discussões nos enriquecem, nos fazem crescer, abrem portas para outros mundos. Nos bons debates um fala, o outro realmente escuta e logo depois contribui com o seu ponto de vista, que quanto mais diferente melhor! Uma boa discussão não precisa terminar com as duas partes concordando. Só precisa mesmo que elas se escutem e se respeitem.

A impressão que eu tenho é que o ser humano perdeu a habilidade de discutir. Quantas e quantas vezes participo ou observo conversas nas quais as pessoas acham que estão tendo uma discussão, mas não estão. São aqueles momentos em que você nota que a pessoa não está dando a menor bola pro que você está falando e sim articulando em sua cabeça o próximo contra argumento pra derrubar o seu. Isso não é discussão e sim monólogo. Tem tanta gente tão convencida da própria opinião que não importa quanto tempo vocês discutam, nada chega do outro lado, nada do que se diz deixa rastros de curiosidade ou espaço pra os questionamentos se formarem. Na minha opinião esses são os convencidos e arrogantes.Pessoas assim acham que discutir é tentar catequizar os outros e impor suas opiniões. Quem é assim normalmente vê as discussões como um jogo ou uma guerra que precisam vencer custe o que custar.

Além dos doutrinadores de plantão, existem os mal educados que acham que discutir é xingar, baixar o nível, desejar o mal aos outros. Desses aí a internet anda cheia! É o que mais se vê nas redes socias. Alguém comenta alguma coisa e sempre aparece alguém que tem uma opinião contrária, chamando o outro de ignorante, imbecil e outras coisas piores. As vezes dá o maior desanimo de conversar com gente assim.

Mas não acho bom se deixar levar pelo desânimo e contantemente fugir desses confrontos. Sempre se isentar de opinar e contradizer, muitas vezes tem o mesmo efeito que concordar com uma opinião contrária. Então o que temos de fazer é saber escolher bem os momentos de nos expressar e reaprender a discutir. O problema é que pra saber discutir bem a gente primeiro precisa saber no que a gente acredita, mas ao mesmo tempo ter humildade de reconhecer que mesmo muitas de nossas convicções mais fortes tem o potencial de estarem equivocadas em algum contexto diferente.

Hoje em dia, com toda a facilidade e rapidez com a qual a gente pode obter e divulgar informações é absolutamente fundamental treinar nossa habilidade de refletir e processar aquilo que chega até nosso conhecimento antes de sair por aí professando nossas "verdades". É o antigo "parar um pouco pra pensar" para só depois disso integar esses novos conceitos a nosso repertório de certezas. Depois de estar consciente daquilo que a gente acredita, chega a hora de exercitar o hábito de ouvir o outro com ouvidos, mentes e corações abertos. No final ainda nos restam algumas escolhas, como por exemplo, reconhecer que o ponto de visa do outro faz mais sentido do que o nosso e mudar nossa forma de pensar, fazer algumas adaptações no que acreditamos ou deixar tudo como está.

Quanto a gente consegue atingir esse nível de responsabilidade com nossas opiniões e respeito com a dos outros, debater se torna uma atividade interessante, educativa e renovadora. Mas infelizmente em nossos tempos de correria, falta de amor e respeito ao próximo, nossa arrogância e superficialidade não nos permite perder muito tempo com isso. A única coisa que importa é achar a forma mais rápida de terminar a discussão que nos contraria nos sentindo vitoriosos. Quer forma mais fácil de conseguir isso do que dizer: "É nisso que eu acredito e quem não pensa igual a mim é idiota, portanto que vá tomar naquele canto e fim de papo"?


sexta-feira, 9 de maio de 2014

Motivação

Passei um tempão paradona, sem postar nada, mas não por falta de idéias. Tem dias que estou fazendo as coisas mais rotineiras do mundo, tipo tomando banho ou lavando os pratos e de repente uma idéia ou lembrança chega de fininho e quando menos espero tenho um texto completo, fluindo sem dificuldade alguma em meu pensamento. Nessas horas me vem a vontade de parar tudo e sair correndo postar, mas logo logo desisto de fazer isso por pura falta de motivação. Blogar pra quê?

Mas a motivação tem me intrigado muito nos últimos tempo. Que força poderosa é essa? Uma pessoa motivada é capaz de coisas inacreditáveis. Motivação muitas vezes parece até milagre porque ela faz muitas pessoas conseguirem transformar o impossível.

Claro que existem vários tipos de motivação, mas o que tem me interessado no momento não é exatamente o que nos motiva e sim do que somos capazes quando achamos algo que faça sentido pra gente. De vez em quando estou sem motivação nenhuma. Acho que todo mundo passa por isso uma vez ou outra. Quando isso acontece pra mim fico me sentindo cansada, impaciente com tudo, faço o que tem de ter feito contando os minutos pra acabar. O dia a dia fica meio sem graça...

Quando estou motivada me sinto diferente. Essa diferença está no meu olhar, na forma como falo daquilo que realizo por causa dessa motivação, minha postura muda literalmente. Pode ser besteira, mas gosto mais de mim quando estou motivada. Me sinto mais feliz.

Comecei a perceber motivação (e das boas o que é melhor ainda) por toda parte. Nos meus alunos, que chegam sorrindo pra uma aula às sete da noite depois de um dia inteiro de trabalho, na minha sobrinha linda que me encontra na biblioteca na sexta-feira à tarde depois da escola pra estudar, na minha comadre que depois de um dia inteiro com três crianças pequenas consegue sair e ir treinar pra uma maratona, no meu companheiro que apesar de seu dia a dia cansativo entre escola e sindicato ainda planeja trabalho voluntário nas férias, na mulher desconhecida da academia que vai malhar levando seu bebê no carrinho...

Observar pessoas motivadas assim me inspira. Então à todas as pessoas que conseguem se manter assim, aqui vai minha admiração e muito obrigada por me ajudarem a reencontrar a minha.

P.S.: Jujuba, esse texto na verdade é pra você. Você foi a primeira motivada que comecei a observar e confesso que sua atitude com a sua vida atual e com suas perspectivas para o futuro me inspiraram e me ajudaram a reencontrar minha própria motivação. Estou muito orgulhosa de ver o quanto você está determinada. Sua força de vontade e a forma como você trabalha duro são qualidades admiráveis em qualquer idade e em alguém tão jovem quanto você é simplesmente impressionante. Sua tia aqui torce muito pelo seu sucesso:-)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

kkkkkkkk

Um dia desses eu fiz um teste na internet que me revelou que minha idade mental é 10. Não foi esse 10 que se diz na Bahia , "Que massa!, muito bom! É 10!" e sim minha idade mental é de 10 anos de idade. Apesar de saber que este teste é uma brincadeirinha, coisa pra passar o tempo e não pra ser levado a sério, confesso que fiquei chocada. Uma mulher com 37 anos com idade mental de 10 é muito preocupante e no mínimo significa que eu sou uma adulta meio abestalhada.

Na verdade eu vejo muitas vantagens em ser uma adulta bem besta. A primeira delas é a leveza. A maturidade nos traz um certo peso, uma certa preocupação com coisas que os abestalhados como eu não tem. Quem me conhece sabe que eu levo muita coisa a sério, mas quase sempre o que eu levo a sério são questões muito importantes mesmo. De resto, se algo pode ser encarado com humor é assim que eu encaro.

Pra minha sorte, eu encontrei um monte de outras pessoas exatamente assim pela vida. Tem muita gente leve e bem humorada por aí, que eu tenho a sorte de poder chamar de amigx e isso me enche de orgulho. Outra vantagem incontestável de ser besta é ter o riso frouxo. As vezes fico até constrangida com as idiotices que me fazem rir por horas.
Ele tá mais pra bode espiatório. Ri muito quando vi isso pela primeira vez rsrsr.
Mas tirando a dificuldade de explicar pros outros porque estou rindo quando do nada me lembro de alguma besteira e não consigo segurar o riso, eu adoro essa capacidade de achar graça em tudo e de rir nos mais loucos momentos. Mas além disso, eu adoro ter tantos amigos goiabas, que entendem meu humor e gargalham comigo.

Queria que o mundo fosse uma grande piada pra que todos pudessemos viver a vida rindo. Como isso está longe de ser possível ou real, vou com mais calma e apenas desejo a todos um 2014 cheio de risos e gargalhadas.

Que nosso ano novo tenha muitos hahahas, hehehes e hihihis (rsrsrs).




sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Minha bolha cor-de-rosa

Toda vez que eu venho ao Brasil acabo ficando mais ativa nas redes sociais. Meus poucos amigos alemães que utilizam Facebook, vivem reclamando que eu só posto em português e eles não podem acompanhar nada. Mas eu tenho uma explicação: meus amigos brasileiros são mais ativos nas redes sociais, compartilham mais, comentam mais, curtem mais. Olhar o Facebook acaba sendo uma experiência massa, como um grande bate-papo com a galera.



Ao ficar mais ativa no Face (já peguei até intimidade, tá vendo?), comecei a perceber os tantos outros usos legais desse meio que não só brincar e ficar trocando bobagens com os amigos. Comecei a fazer parte de comunidades e grupos de discussão e com isso ler mais, conhecer mais, estudar mais. E não foi só isso. Quando perdi a timidez nas redes sociais e passei a comentar também, voltei a exercitar a habilidade de debater e de argumentar. Como se isso já não fosse muito bom, conheci muita gente bacana que hoje me arrisco até a chamar de amigos, apesar de alguns deles só conhecer mesmo pelas fotos disponibilizadas em suas páginas.



Mas isso é o que me dá a certeza de que atrás da imaterialidade do Facebook, existem pessoas de verdade, com estórias de vida, famílias, empregos, dramas e tudo mais, iguaizinhos a mim e a você. Essas pessoas, assim como nós, riem sofrem e se ofendem. Por isso eu realmente me assusto muito ao ver o nível de crueldade de certos comentários e posts no Facebook.



A sensação de segurança e anonimidade que as pessoas tem atrás de seus computadores lhes dá um certo sentimento de segurança, então elas terminam por sentirem à vontade pra digitar coisas que não diriam da mesma forma se a conversa fosse cara a cara. E aí começa o festival dos horrores. É gente desejando a morte alheia, culpando vítimas de estupro por terem sido estupradas, dizendo que não viram racismo quando ele está mais do que óbvio, chamando vítimas de discriminação de paranóicas, falando que a luta feminista é mimimi e muita, mas muita baixaria mesmo.



Mesmo quando a pessoa tem um posicionamento que eu considere reacionário ou que de qualquer outra forma não coincida com meu ponto de vista, é interessante discutir. Na verdade esses são os verdadeiros debates. É importante ouvir outras visões de mundo, nem que isso sirva somente pra fortalecermos nossos argumentos. Mas tudo isso pode e deve ser feito com repeito, pelamordedeus!!!



Quando eu vejo a agressividade com a qual as pessoas reagem aos posts umas das outras eu percebo que todos esses anos eu vivi em uma bolha cor-de-rosa na qual só existiam amigos e pessoas tranquilas, que sabem discordar e expor suas opiniões contrárias sem ofender. De repente estou dando de cara com um mundo cruel, cheio de pessoas mal-educadas e insensíveis. Que triste, viu? Quero minha bolha de volta!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Lidando com o racismo: os jovens do Instituto JCPM em Salvador

Mês passado fui convidada para um bate-papo com os jovens do Instituto JCPM em Salvador. Este convite, que me pegou de surpresa e me encheu de felicidade, foi feito depois dos educadores do projeto terem trabalhado meu texto "Lidando com o racismo" em sala. Antes de ir falar com eles, eu já tinha lido as cartas que estes jovens escreveram para mim. Nelas, além de relatarem suas impressões sobre meu texto, eles me contaram suas próprias experiências com racismo.

Lá fui eu então conhecer os jovens e falar com eles. Estava meio nervosa, sem saber o que esperar, mas me sentindo extremamente honrada pelo convite e ao mesmo tempo bem ciente do tamanho da responsabilidade que vinha com esta honra. Olhar para eles e ouvir o que tinham a dizer me fez lembrar da adolescente que eu fui, cheia de energia, dilemas e inseguranças próprias dessa fase da vida e, como se isso não fosse suficiente, ainda tendo de lidar com questões de preconceito. O encontro com eles me fez pensar muito sobre os processos que temos de passar ao crescer em uma sociedade hipócrita como a nossa. Depois da conversa com eles, fiquei pensando muito sobre o seguinte:
  1. Questão de identidade racial
O brasileiro é um povo todo misturado. A gente cresce ouvindo isso à exaustão e é verdade mesmo: somos misturados. No entanto, apesar dessa miscigenação toda, na maioria dos casos é possível identificar quem é negro e quem não é, tanto que há discriminação. Ou seja, crescemos ouvindo que somos iguais, mas o mundo nos diz que somos diferentes de uma forma bem negativa.

Como ninguém gosta de ser associado a coisa ruim, é natural que surjam jeitinhos de tentar minimizar a forma negativa como somos percebidos. É aí que entram as tão pervesas estratégias de branqueamento. Desta forma, muito negro acaba virando moreno, moreninho, cabo-verde e por aí vai. Quando perguntei quem dentre eles se considerava negro, um número surpreendente de negros não levantou a mão. É sem dúvida nenhuma uma pena que nossa educação social ainda não tenha encontrado modos de fortalecer a identidade racial de crianças e adolescentes para que ninguém precise se envergonhar de ser quem é.
  1. Auto rejeição
Tanto nas cartas quanto no encontro, os jovens relataram suas experiências chocantes com o racismo. Aquelxs meninxs, entre 16 e 24 anos, já foram seguidos por seguranças de loja e shopping centers, negadxs atendimento em loja, ignoradxs quando tentavam obter algum serviço, abusadxs verbalmente com palavras tão duras que eu me recuso a repetir aqui e humilhadxs de diversas outras formas diferentes, antes mesmo de se tornarem adultos no sentido pleno da palavra e da experiência. Não precisa ser nenhum gênio para entender quantos danos isso pode causar ao emocional e psicológico de um ser humano que cresce tendo de lidar com isso.

Da mesma forma, dá pra entender porque a indústria do alisamento/relaxamento de cabelos movimenta milhões em qualquer lugar do mundo. Tem mães por aí, que com a intenção nobre de proteger e cuidar, ficam contando os dias até finalmente poderem começar a relaxar os cabelos das filhas. E assim, ao invés de aprender a nos amarmos e aceitarmos como somos, acabamos por internalizar a idéia de que nosso cabelo é "ruim" e que precisa ser domado. Como se isso já não fosse suficientemente triste, constatei que muitos daqueles jovens negros consideram as palavras "negro" e "preto" xingamentos. Que triste crescer em uma sociedade que te ensina a rejeitar até mesmo os termos que definem sua identidade.
  1. A negação do problema
Uma das formas mais maquiavélicas de garantir a perpetuação do racismo é negar que ele existe. Esta é uma estratégia cruel porque cega toda a sociedade para o problema e torna o seu combate tarefa impossível. Afinal de contas, como solucionar um problema que não existe? O mais lamentável é perceber que essa armadilha bem montada pega qualquer um, até mesmo nós, os negros. Fiquei comovida ao ouvir um menino dizer que ele sempre achou que nunca tinha sido alvo de racismo, até darem início às discussões sobre o tema em sala. A partir daí ele começou a relembrar situações do passado e pôde constatar que já tinha sido discriminado sim, inúmeras vezes.

O encontro com os educadores e jovens desse instituto foi uma experiência riquíssima em minha vida. Recebi muito carinho e tive a oportunidade de mais uma vez confirmar o quanto é importante despertar a atenção das pessoas para questões sociais e de identidade o quanto antes. É fundamental estimular as crianças desde bem cedo a se amarem e se aceitarem exatamente como são, e a nunca duvidarem de sua importância e do seu valor no mundo. Também é importante estimular o quanto antes o interesse em conhecer a própria história para melhor entender sua realidade atual. A pessoa que cresce sendo incentivada dessa forma, muito provavelmente se tornará um cidadão seguro, consciente de sua importância e sensível para as questões e os dilemas de outros seres humanos. E não é assim que se forma uma sociedade verdadeiramente igualitária?

Para saber mais sobre o instituto clique aqui. Para saber mais detalhes sobre minha visita aos jovens de lá, clique aqui e aqui.

  foto de André Pacheco:-)


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Lidando com o racismo – de outra forma

Um dia, recebi uma ligação de Lubi perguntando se eu estava com tempo. "Sim, claro. Pode falar" e ele começou a me contar uma estória longa que a princípio eu não sabia bem onde ia chegar. Contou que lá no instituto onde ele trabalha, tem uma atividade chamada "Cinema Comentado". Nessa atividade, os jovens assistem um filme e depois discutem sobre os temas abordados. O filme escolhido pela equipe de educadores tinha sido "Escritores da Liberdade" (Freedom Writers) de Richard LaGravenese. Como eu até então ainda não conhecia o filme, ele prossegiu me dando um resumo do que se tratava.



O filme não é nenhuma super produção cinematográfica, mas impressiona por ser um estória surpreendente, baseada em fatos reais. Ele mostra uma professora jovem, recém-formada e bastante idealista, que vai trabalhar em uma escola multicultural na Califórnia em uma época (1992) em que os Estados Unidos estavam fervendo com conflitos raciais. Os alunos de sua turma, são (em sua grande maioria) adolescentes em situação de risco que só concordam um com os outros em duas coisas: primeiro, que todos os outros são inimigos e segundo que a escola é uma merda. Nesse cenário pra lá de hostil pra qualquer processo educacional, ela consegue ajudar esses jovens a mudar de atitude a ponto de virarem escritores.



Não queria mais contar tanto sobre o filme, porque acho que vocês deveriam assistir. É fantástico e inesquecível. É um desses que antes de começar a ver, a gente tem de ter certeza de que se tem muuuuuito lenço de papel por perto. Mas pra que eu possa explicar como essa experiência foi especial pra mim, tenho de contar um pouquinho mais sobre a história do filme, então quem não quiser ter o fator surpresa estragado, pare de ler agora . O que vem a seguir são spoilers.


Os jovens, no filme, são estimulados a ler um livro cuja história se passa bem distante da realidade deles, tanto no tempo, quanto geograficamente falando. No entanto, por também se tratar de uma história verídica, ela de certa forma se relaciona muito com a deles. Eles,  então escrevem cartas para uma personagem fundamental da estória e conseguem fazer com que sejam recebidas e lidas. Como se isso não fosse o bastante, conseguem trazê-la para uma conversa com eles.


Lubis me explicava tudo isso ao telefone e eu só no "ahãn", "sério?" "nossa" "que bacana" sem compreender direito onde ele queria chegar. Até que ele finalmente chega: "Então, nós levamos seu texto "Lidando com o racismo" pra ler e debater com os meninos lá no instituto". Isso gerou GEROU uma série de discussões sobre o tema e aí surgiu a idéia de replicar com eles o ocorrido no filme. 

O que aconteceu depois foi simplesmente inacreditável.
 

Recebi mais ou menos 50 cartas à moda antiga, escritas com caneta e papel, com direito a envelopinhos coloridos, adesivinhos, coraçõeszinhos e floreszinhas desenhadas. Me emocionei. Isso é raro de se ver hoje em dia.
Como se isso já não fosse honra bastante, fui convidada a ir lá, conversar com eles. E o que aconteceu naquele dia, foi muito tocante. Tanto que vou precisar de mais um post pra contar pra vocês tudo que me marcou naquele dia.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Instituto João Carlos Paes Mendonça

Eu tenho a sorte de ser muito amiga de um cara chamado Eduardo Lubisco. Lubi, como ele é carinhosamente conhecido por muitos, além de professor de inglês, é um educador fora de série. Por ser uma pessoa extremanente sensível e preocupada com as questões sociais de nosso tempo, ele está sempre engajado em alguma causa e contribuindo de sua forma, para melhorar o mundo a seu redor. Sabe quando a gente diz assim: "as pessoas deveriam falar menos e agir mais"? Pois é, ele é uma dessas pessoas que agem.

Há mais ou menos dois anos ele trabalha no Instituto JCPM. Até bem recentemente, eu não fazia a menor idéia que esse projeto existia. Aposto que muitos de vocês também não, né? Deixa eu contar do que se trata porque é uma dessas coisas que vale a pena conhecer. O grupo JCPM (responsável por empreendimentos imobiliários e shopping centers espalhados por todo o Brasil) mantém um instituto de compromisso social em áreas carentes próximas a seus empreendimentos em todas as cidades onde se estabelecem. Aqui em Salvador, por exemplo, o Instituto JCPM funciona no Shopping Salvador e atende jovens entre 16 e 24 anos, que sejam moradores ou que frequentem ou tenham frequentado escola pública nos bairros de Pernambués e Saramandaia.

Lá nesse instituto, eles tem aulas de matemática, português, inglês e informática além de treinamento e auxílio para ingressar no mercado de trabalho. Dia 19 de novembro eu estive lá pela primeira vez e foi um dia que vai ficar pra sempre marcado em minha memória e meu coração. Querem saber por quê? Aguardem o próximo post...

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Meu mundo imperfeito

Virei fã de Elizabeth Gilbert assim que li Comer, Rezar e Amar. Tanto que não hesitei em clicar "curtir" em sua página do Facebook, apesar de achar que esse negócio de seguir celebridades é uma das maiores babaquices do universo. Recentemente Liz Gilbert postou uma coisa em sua página que me tocou profundamente. É um texto que fala do amor incondicional da escritora Courtney A. Walsh.

O texto dela é uma cartinha endereçada a nós humanos que nos estimula a esquecer essa coisa de amor incondicional porque o que a gente precisa mesmo é de amor pessoal, amor universal que é suficiente e dispensa complementos. Ainda segundo ela, a beleza desse amor está extamente em ser bagunçado, imperfeito, cheio de tentativas, erros e acertos. E ela não tem toda razão?

Eu vou ainda mais além. Não é só no amor que a gente precisa aprender a abraçar as imperfeições e sim em todos os aspectos de nossa experiência humana. Isso não é uma apologia aos maus hábitos e aos defeitos que nos paralisam e impedem de crescer como seres humanos. É só que faz bem tentar ser mais normal e menos perfeitinho. É bom ser um ser humano mais completo, cheio de qualidades e defeitos.

É uma pena que hoje em dia muita gente ache que a vida tenha de ser levada como se vivessem em um mundo de faz de contas. Num lugar onde tudo na vida só pode ser bonito, chique, elegante e digno de ser fotografado pra depois ser compartilhado em redes sociais, não há espaço pra entrar em contato com nossa imperfeição. E no final das contas ela é uma grande mestra nas nossas vidas. Se a gente não consegue assumir as próprias imperfeições qual seria a alternativa? Tentar ser super humano? Infalível? Deus? É muito pesado!
"Ninguém é perfeito". Acho que a gente não reflete realmente sobre o que isso significa quando repete essa frase por aí. Mas ela é um lembrete importante. Se ninguém é perfeito, porque que a gente tem mania de ficar querendo que o outro seja? Por que a gente tem tanto medo das nossas imperfeições? Hoje estou chata e bateu a preguiça de escrever mais. Mas minha chatice e preguiça são bem vindas. Elas são parte de mim e portanto, bem aceitas também.
P.S. Essa música do Pato Fu é a perfeita trilha pra isso aqui. A qualidade do video está bem imperfeita, igual ao post. 
 
Video de Rafael Amorim

Mas pra quem tem o defeito de não aceitar bem o imperfeito, aqui neste link dá pra ouvir a música direitinho e ainda acompanhar a letra.