Em
1992 o dia de hoje foi instituído pela ONU como o dia Internacional
da Mulher Afro-Latino-Americana e Afro-Caribenha durante a primeira
conferência de mulheres dessas etnias na República Dominicana.
Sendo hoje também, meu aniversário, sei que a data me toca
duplamente. Aproveito, portanto meu dia hoje pra refletir sobre o que
é pra mim ser uma mulher negra latino americana.
Eu
valorizo quem eu sou e minha história. Me orgulho de minha família
e das dificuldades que algumas vezes enfrentamos pois reconheço
que a forma como lidamos com essas situações complicadas modela nosso carater, nos dá força.
Adoro o fato de saber que minha história é feita de vários
pedacinhos de vários lugares da Europa, do Brasil e da Africa. No
conjunto de fatores que fazem de mim quem eu sou, o que não
falta é coisa para escolher e aprender, culinária pra experimentar,
tradições pra conhecer,
idiomas pra falar. Dentro de minha família, uma família só, o que
não falta são
cores diferentes de olhos e peles, texturas e cores diferentes de
cabelos, formas diferentes de corpos. Isso é muito lindo, porque de
repente é como se eu pudesse me identificar com o mundo todo.
Mas
por mais orgulho que minha história me dê, ela também me traz
muita dor. Ser uma mulher negra latino americana infelizmente também
significa que as pessoas às vezes se sentem incomodadas com minha
presença, seja
por não saberem como se comportar comigo e ficarem tensos porque
querem parecer não racistas, ou por não desejarem minha presença
mesmo e pronto. Significa que de vez em quando eu sou
completamente ignorada em uma conversa. A minha história
infelizmente também acaba fazendo com que muitas vezes eu seja a
única em qualquer lugar que eu vá. A única negra do mestrado, a
única negra no restaurante que não
está trabalhando como babá, correndo atrás de uma criança
que não é sua. É ser tratada
como animal exótico, que pode ter bunda grande, ser sensual e saber dançar, mas causar estranheza quando digo que meu trabalho é com o cérebro. É ter de aguentar
pessoas próximas insistirem que a discriminação
que eu vivo na pele não é
racismo, é qualquer outra coisa, que eu estou paranóica,
exagerando, procurando cabelo em ovo. É crescer ouvindo pessoas na
minha própria família dizerem que meu cabelo é ruim e feio e ser
pressionada a vida inteira pra alisar, prender e domar meu piau,
minha bucha, minha vassoura de palha.
Mas
o 25 de Julho foi criado para ser um marco de luta e resistência.
Assim como a data pede eu resisto a esteriótipos e questiono quem
quer que queira me limitar. Quando tentam me calar eu faço
mais barulho, quando tentam me dominar eu esperneio e quanto mais
luto, mais me fortaleço. Parabéns a todas as nós Negras, a todas
nós Latino Americanas e todas as Caribenhas. Vamos fazer barulho em
nosso dia. Apesar de tudo a gente sempre supera e arrasa sempre!
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Este texto faz parte da I Blogagem Coletiva 25 de julho, organizada pelas Blogueiras Negras.
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