Escravo da Alegria é uma música de Toquinho e Vinicius que eu amo, mas que
ultimamente tem me irritado um pouco quando escuto. A questão é que
hoje em dia, ao contrário do que eles cantam, ser ou (pior ainda)
parecer estar feliz, não só é normal como uma verdadeira
obrigação. Só que aqui entre nós, isso é uma farsa que além de
cansativa, ninguém aguenta manter.
Antes de continuar, deixa eu esclarecer uma coisa: A-D-O-R-O a alegria, acho bacana ser feliz e prefiro o riso ao choro, sempre. Na verdade, não tenho problema nenhum em dizer que me considero uma pessoa hilária e constantemente recebo confirmações disso através de meus amigos e conhecidos. Muita gente ri das besteiras que falo, me diz que eu sou engraçada etc. Minha sogra (vejam bem, MINHA SOGRA!!!) me chama carinhosamente de "Solzinho" porque segundo ela quando eu apareço todos sorriem. Que meigo, né? Pois é. Isso é a prova de que eu sou do time do alto-astral.
Mas
mesmo sendo fã da leveza e da
felicidade, eu ainda acho que o ser humano tem direito ao mau humor e
mais importante ainda, à tristeza e à melancolia. Fazer de conta
que esses sentimentos não
existem faz mal à saúde e à qualidade dos relacionamentos que
temos com outras pessoas. Ao meu ver, viver em um mundo no qual só
se pode sorrir e ser feliz, mesmo quando nosso coração
nos diz que estamos tristes, faz tão
mal à alma quanto quando só se odeia, só se desespera, chora e se
fala de coisas ruins.
Nossos
sentimentos negativos também tem uma razão
de ser. Sou a favor de tentar exergá-los de forma crítica, de
tentar entendé-los e significá-los. Acredito que é simplesmente neurótico viver negando suas manifestações e que é mais saudável aceitar que eles existem tanto em nós quanto nos outros e que de vez em quando,
temos de lidar com eles e senti-los mesmo.
É
interessante que hoje em dia se fala tanto em ser feliz, existem
tantos adeptos da alegria contínua e positividade incondicional e
que no entanto as pessoas reclamem tanto da vida, dos
vizinhos, do trabalho, das festas que frequentam, dos seus
relacionamentos... Eu acho que
isso é sintoma de uma sociedade
meio fútil, que é obcecada
com tudo que é rápido
e superficial. Não
dá tempo de ser ou sentir nada de verdade, só de parecer e de
mostrar. Acaba que proibimos
nossa tristeza de dar as caras e nossa alegria nem é assim tão
feliz quanto parece.
Nossos
sentimentos negativos são
excelentes professores que se
bem observados podem nos ensinar lições
valiosíssimas sobre quem verdadeiramente somos. Só
que para aprender suas lições
é preciso paciência,
determinação,
disposição para refletir e ir
fundo
nas questões que vão surgindo desse contato. Mas
isso custa tempo, dá trabalho e muitas vezes é doloroso. O
que é uma pena, porque quando não
negamos nossa tristeza, nossa
raiva, nossas confusões,
nossas vulnerabilidades, ficamos mais leves, mais completos, mais
interessantes e até mais
humanos. Sei lá, acho que até nossa felicidade quando vem, é mais autêntica.
Nossa! Que lindo! Conheci o blog através das blogueiras negras e já me deparei com este texto que responde ao que tenho pensado ultimamente: a obrigação de "parecer" feliz e bem sucedida. Ganhou uma fã.
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