sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Feliz dia da criança

No meio de um faxinão, acabei encontrando umas fotos minhas do tempo que era criança. Enquanto olhava aquelas fotos, me vinham recordações daquele tempo e eu me admirei ao perceber que eu mudei tanto que nem parece que minhas recordações são de fato minhas. Elas poderiam muito bem ser a vida de outra pessoa, alguém muito diferente de mim.

Me lembro que aquela menina de seus quatro ou cincos anos sorrindo para mim da foto, era uma mini perua mandona que somente permitia três cores em seu guarda-roupa: vermelho, amarelo e rosa, é claro. Ela adorava tamanquinhos e tinha seus cotoquinhos de unhas sempre pintados do vermelho mais berrante. Em retropesctiva, imagino que não deve ter sido nada fácil pra minha mãe lidar comigo naquela fase.

Eu às vezes me recusava a sair pra brincar com as outras crianças porque não queria correr o risco de bagunçar meu cabelo ou de amarrotar meu vestido. Minha mãe, na maior paciência do mundo cortava minha maçã em pedacinhos minúsculos para que eu pudesse comer sem ter de morde-la  com os dentes da frente e com isso acabar borrando meu batom. Sinceramente, não sei se eu teria a mesma paciência que minha mainha, com uma menina assim tão fresca.

Cinco anos depois eu já era bem diferente. Gostava de brincar com as outras crianças, dançar e escrever. A pequena perua de anos atrás só vinha à tona em meus cadernos, que eram sempre bonitinhos e enfeitados, a letra bem desenhada e tudo muito bem organizado. Aos dez anos, eu era toda cheia de mim mesma e tinha certeza absoluta que iria ser escritora. Como mãe é bicho bobo e acredita nessas coisas, a minha foi logo tratando de me dar de presente uma máquina de escrever, que apesar de ser pesadona, era compacta e considerada portátil pros padrões da época e por isso eu a levava comigo pra toda parte. 

Recordando minha infância eu tenho a impressão de que eu era uma pessoa peculiar, ecêntrica, e por que não admitir, meio estranha mesmo,mas ao mesmo tempo muito engraçada e divertida. Pensando bem, e que criança não é assim? A gente vai crescendo, amadurece, o que é importante, mas muitas vezes deixa de lado umas bobagens de criança que não necessariamente precisariam ser deixadas de lado pra gente ser adulto e isso é uma pena. Foi pensando nisso que nesse dia da criança resolvi homenagear a criança que eu um dia eu fui. Tirei meu vestidinho rosa do armário e se não fosse a chuva e o frio de 9 graus do outono alemão teria inclusive calçado meu tamanquinho branco.

Peruinha aos cinco anos
Peruona aos 36


4 comentários:

  1. Ah menina, foi por isso que na sexta vc estava mesmo uma princessa, como disse Caio! Flora

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  2. David Lynch escreveu que adorava desenhar e pintar quando era criança, mas achava que, quando se tornasse adulto, teria que deixar isso de lado para fazer coisas "mais sérias". Até que conheceu um novo amigo, cujo pai era pintor (e não de paredes!). Essa conversa mudou a vida dele. Ser eternamente criança é uma bobagem, mas "se tornar adulto" não se reduz a só fazer coisas sérias.
    "The art life means a freedom to have time for the good things to happen. There's not always a lot of time for other things". E pra quê, né?

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  3. Com certeza Silvinha,
    e eu gosto de pensar que sou um bom exemplo de adulta bobona, que noa tem medo de fazer um monte de infantilidade rsrsrsrs.

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  4. Sim Florinha,
    estavamos todas umas princesinhas segundo Caio rsrsrs.

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