Eu sei que demorei, mas não poderia deixar o mês de novembro acabar sem falar do muro de Berlim. No dia 09 de novembro a Alemanha comemorou (1) 20 anos que ele foi derrubado. Impressionante como os quase 155 kilômetros de concreto influenciaram a história européia e porque não dizer, mundial nos 28 anos em que dividiram a cidade de Berlim em dois blocos. Também é impressionante como até hoje a europa ainda prova o gostinho amargo desse período. Basta dar uma passadinha em Berlim para sentir toda essa história bem de perto.
Quem vai a Berlim pode visitar inúmeros museus que tratam do assunto, mas um dos mais interessantes é o museu do Checkpoint Charlie. Trata-se de um dos pontos da fronteira entre o setor americano e soviético e lá existe a possibilidade de participar de um jogo, no qual o visitante recebe uma identidade de um fictício ex-morador da cidade tentando atravessar a fronteira por algum motivo. Nessa brincadeira, você vivencia o controle que a polícia e o exército faziam na época. Na hora, tudo é bem divertido: eu estava em um carro com mais três pessoas, éramos turistas do lado ocidental e queriamos visitar um parente do outro lado. Nossa festinha acabou rápido porque um de nós estava bebendo uma coca-cola em lata e o ator/policial que estava controlando nosso carro, não gostou nada daquilo. Tivemos nosso acesso negado... Abaixo vocês podem ver algumas cenas de nossa passagem pela "blitz".
Passado o momento das gargalhada e trocas de figurinhas de como a experiência foi interessante, a cabeça vai a mil com os questionamentos. Como é que uma cidade inteira conseguiu viver quase trinta anos dividida?
Algumas das estórias de quem viveu essa divisão, me fizeram chorar. Inúmeras pessoas viram suas vidas alteradas, literalmente da noite pro dia, já que a construção começou na madrugada de 12 de agosto de 1961. Em algumas ruas de Berlim, moradores acordaram e deram de cara com o muro na sua janela. Uma das intenções do governo soviético com a construção do muro era evitar a onda crescente de imigração de jovens acadêmicos para o lado ocidental e com isso encarceraram metade de uma cidade.
Bem, o muro caiu, vinte anos se passaram, mas suas marcas ficaram. E assim como o muro dividiu Berlim e o país, os sentimentos pós-muro são bem divididos também. Os estados do antigo bloco oeste até hoje pagam imposto de solidariedade, que tem como objetivo revitalizar os estados do antigo bloco leste, o que cria um certo ressentimento dos ocidentais em relação aos orientais. Estes, por sua vez, já estão cansados de serem retratados como os coitadinhos da Alemanha. Além disso, tem aqueles que acham que nos tempos do socialismo eram felizes e não sabiam. Esses são saudosos de um tempo em que o estado regulava absolutamente tudo. Não se podia ter um novo iPod, porque ninguém tinha mesmo e não porque não se tinha dinheiro pra comprar. A liberdade era restrita, mas ninguém era desempregado.
Por outro lado tem aqueles que se ressentem dessa nova onda de saudosismo socialista, porque foram presos ou torturados por simplesmente terem emitido uma opinião. E isso era mais comum do que eu imaginava. Tem um museu em Berlim somente dedicado aos prisioneiros da polícia comunista onde, além de casos bem sérios, se pode ver também centenas de estórias absurdas, como a da menina de 12 anos que foi interrogada pela STASI (2) por ter riscado um retrato de Stalin. Pessoas que passaram por esse tipo de contrangimento tendem a achar que tudo se dá um jeito de comprar, mas liberdade não tem preço.
Hoje em dia quando esse papo vem à tona, eu não me acho qualificada o suficiente para opinar. Só sei que toda vez que eu visito Berlim eu sinto o maior respeito por aquela cidade e por esse país de uma forma geral. Admiro a forma como os dois blocos conseguiram sair de uma história cruel de tão estranha e evoluir para um país no qual o capitalismo ainda não é selvagem. O governo ainda se sente responsável por colocar ordem no terreiro. Aqui essa coisa de simplesmente chegar e começar um império no qual só se lucra ainda não cola muito, não. Existe pobreza, sim e ela tem aumentado a cada ano, mas a diferença é que isso aqui ainda choca, contrange, deprime e por ainda não ser aceito como normal, de leste a oeste, as pessoas um dia botam a boca no trombone, vão atrás de seus direitos e por serem insistentes e se recusarem a agir como se estivessem pedindo favor ao governo, acabam conseguindo fazer seus direitos valerem.
P.S. Os alemães se envergonham um pouco dos Scorpions, não sei por que (hahaha) mas aqui vai o link para um video com imagens do dia em que fronteira entra as duas partes de Berlim foi aberta, com a música que a banda compôs depois da queda do muro.
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(1) A comemoração foi linda. O vídeo é para quem entende alemão, mas lá pelo sétimo minuto, dá pra ver a festa que foi com a derrubada dos dominós.
(2) A STASI era a polícia do ministério de segurança interna da antiga RDA, ou antiga Alemanha Oriental. O museu a que me refiro é o Memorial Hohenschönhausen que funcionou como uma prisão comunista. Vale à pena uma visita, também.
P.S. Os alemães se envergonham um pouco dos Scorpions, não sei por que (hahaha) mas aqui vai o link para um video com imagens do dia em que fronteira entra as duas partes de Berlim foi aberta, com a música que a banda compôs depois da queda do muro.
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(1) A comemoração foi linda. O vídeo é para quem entende alemão, mas lá pelo sétimo minuto, dá pra ver a festa que foi com a derrubada dos dominós.
(2) A STASI era a polícia do ministério de segurança interna da antiga RDA, ou antiga Alemanha Oriental. O museu a que me refiro é o Memorial Hohenschönhausen que funcionou como uma prisão comunista. Vale à pena uma visita, também.