sábado, 14 de junho de 2008
Estrangeira
Apesar de estar vivendo aqui em Bremen a quase seis anos entre idas e vindas eu ainda nao tinha me sentindo estrangeira. Deslocada sim, meio estranha e diferente de todos também, mas nunca verdadeiramente estrangeira. E isso era uma coisa boa já que a vida para estrangeiros aqui nem sempre é um mar de rosas.
Até que duas semanas atrás comecei a ver bandeiras alemães por toda parte. A princípio foi curioso, mas quando não só o número como também o tamanho das bandeiras comecou a aumentar, fui ficando meio assustada e comecei a achar que tinha uma guerra acontecendo por aqui da qual eu ainda não tinha me dado conta. Pouco antes de entrar em pânico descobri que o país estava em contagem regressiva para o campeonato Europeu de futebol, conhecido por aqui com EM (Europa Meisterschaft). Por aí vocês deduzem o quanto eu me ligo em futebol... Minha (falta) de empolgação com esportes à parte, os fãs do futebol com suas bandeirinhas tem dado muito pano pra manga na discussão sobre o orgulho nacional por aqui.
Como Ubaldo Ribeiro, muito precisamente observou em seu livro de crônicas “Um Brasileiro em Berlim”, até bem pouco tempo atrás a coisa mais difícil de se achar aqui na Alemanha era um alemão. Quando se perguntava “De onde você é?” As pessoas respondiam orgulhosas que eram da cidade tal ou de uma certa região, mas nunca que eram da Alemanha. Dizer que era alemão, era mais ou menos como confessar um defeito horroroso. Coisas do passado de guerras...
Hoje em dia, discute-se muito sobre isso e sobre quantas gerações serão obrigadas a viver sentindo vergonha e se desculpando pelas atitudes de seus antepassados até que passe a ser tranquilo assumir sua própria nacionalidade, ou poder pendurar a bandeira de seu país nos seus carros ou nas janelas de suas casas sem que com isso uma polêmica seja levantada. Nunca fui contra sentimento de nacionalismo se nao é doentio nem babaca como o de muitos americanos. Mas ver esse monte de bandeira todo dia me faz lembrar a todo instante que eu não sou daqui. Sou estrangeira. E sinceramente, como diria meu marido, um polonês naturalizado alemão, esse monte de bandeira alemã hasteada ao mesmo tempo dá um medo...
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