sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Meio azedo, ou "E eu com isso?"

Já era pra eu ter escrito esse post há mais tempo, mas confesso que precisei de um tempo pra processar o assunto...

Dia 05 de novembro, chego na escola e sou parabenizada euforicamente por um colega de trabalho, meio desequilibrado. Eu preciso de uns minutos para entender, afinal de contas não é meu aniversário, nem nenhuma data especial. Mas como parabéns no geral é coisa boa, aceito simplesmente e continuo meu caminho, confirmando minha tese de que aquele cara estrapola a cota de maluquice permitida por professor. Chego na sala de aula, começo a arrumar meus muitos bagulhos, quando um outro colega aparece na porta e me fala que eu devo estar muito feliz. E eu de fato estava, só não sabia se era pela mesma razão que ele esperava que eu estivesse. Sinceramente, todo mundo estava me parecendo meio louco.

A gota d'agua no entanto, foi quando uma aluna entrou na sala já me dando os parabéns. Resolvi admitir minha ignorância e perguntei por que ela estava me parabenizando. Pela vitória de Obama, foi resposta. Você deve estar totalmente feliz, acrescentou. Naquele momento, a ficha caiu: fui parabenizada três vezes num só dia pela vitória dos outros. E eu fiquei com vontade de dar meus pêsames pela ignorância geral.

Pra que não haja dúvida, achei bom que Obama ganhou. Acho também que esse é um momento histórico importantíssimo. Quem imaginava ver os Estados Unidos elegerem um presidente negro? Martin Luther King, com certeza não... Mas além do fato de nós dois sermos humanos, habitantes do planeta terra e representantes da raça negra, não temos nada em comum. Por isso não preciso ser parabenizada pela vitória dele, porque eu simplesmente não tenho nada a ver com isso. Nem todo negro se parece, é parente ou faz parte da mesma irmandade.

E tem mais: para aqueles que se passaram nas aulas de história, Obama não é a Princesa Isabel e já não existe escravidão oficialmente no Brasil desde 1888. Brasil é na America do Sul e o nosso presidente é brasileiro. Muita gente, por medo de parecer racista, acaba falando tanta besteira que no final faz papel é de palhaço mesmo. Sei que os parabéns foram dados com muito boas intenções. Mas dessas aí, como diz o ditado, o inferno está cheio. Na minha opinião, a melhor coisa a se fazer quando não se quer ser confundido com um racista, é mesmo deixar de ser um.

4 comentários:

  1. Achei interessantíssimo o tema e, só para acrescentar, Obama não é o típico negro oprimido que muitas pessoas idealizam. Só para dar uma idéis, Obama se formou em Direito em Harvard. Não acho que seja um Martin Luther King, embora reconheça a importância para os EUA. Beijo, Cris!

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  2. Cris.. não desisti não. Só tava sem assunto.
    É engraçado você ter escrito isso, porque eu estava pensando a respeito agorinha mesmo, nas várias formas em que as pessoas são preconceituosas e não se dão conta.
    Com relação a Obama, eu tenho minhas dúvidas (por ser muito desconfiado) quanto ao grande momento. Acho a imagem dele muito montadinha e certinha. Bem.. e é outro assunto. Eu acho mesmo que o mundo deixará de ser preconceituoso, no dia em que a cor, a fala, a nacionalidade e o seu jeito de ser, não for nem uma questão, passar "despercebido".

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  3. É engraçado por que as pessoas não enxergam que esta "vitória" traz uma questão simbólica do ponto de vista étnico, mas é muito mais significativo do ponto de vista financeiro.

    O mundo inteiro - até os grandes donos de capital - não aquentavam mais Bush ... parece que a era moderna entra em uma nova fase, uma outra coisa, que não é o neoliberalismo ...

    Isso sim é mais difícil de ver.

    Abraço forte,

    anaÊ

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  4. Cris,

    Antes de tudo, eu me associo a você na bela conclusão com que encerra o texto. Como brasileiro e até como um professor inclinado a esta discussão, eu observo os modos enviesados de racismo, muitas vezes expressos sob a intenção "politicamente correta", cujo artificialismo permite o ato-falho revelador.

    Sobre Obama, embora o fator racial tenha importância em sua eleição, eu a avalio mais no que toca ao bem-estar do mundo, que é onde situo o nosso interesse como brasileiros. Não estou preocupado com o que seja bom ou ruim para aquele país. Importa é ver aquela potencial máquina mortífera (militar, econômica, etc.) nas mãos de alguém aparentemente decente, é um alívio.

    Um beijo!

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