Hoje em dia, quando saio de Salvador é com um misto de tristeza e alegria sempre. Começo a sentir falta de meus amigos já uma semana antes de nossa despedida, mas é mais ou menos nessa época que a ansiedade de rever meus amigos distantes, dessa vez na Alemanha, bate mais forte. Começo a contar os dias até poder voltar a vê-los e aí bate a tristeza porque me lembro daqueles em Salvador que vou ter de esperar um bocado pra poder ver outra vez. Como eu disse antes: não é nada fácil ter o coração em duas cidades, em dois países, em dois continentes.
Ainda mais quando esses dois lugares me oferecem dois pacotes completamente diferentes de felicidade. Salvador me acolhe porque quando chego lá, normalmente estou cansadona das 11, 12 horas de vôo, mas meus amigos vão logo pro aeroporto me encontrar, me dão abraços fortes de tirar o fôlego, vão lá pra casa, onde minha chegada é entendida como se fosse um evento especial, e por isso rola logo uma cerveja, uma comida diferente e bem trabalhosa, pra me esperar. Isso espanta o cansaço, me energiza. Sem contar que lá é o lugar onde tudo é rápido e barulhento, no qual eu posso sentar numa mesa de bar e conversar com todo mundo ao mesmo tempo, inclusive com quem estiver sentado na ponta oposta a minha. Lá eu posso relaxar e soltar esse lado mais elétrico meu, que eu tento controlar um pouco mais quando estou aqui.
Já Bremen me acolhe de outra forma, porque quando chego aqui, normalmente estou cansadona das 11, 12 horas e vôo e parece que a cidade entende e respeita isso. Todas as filas são rápidas, todos os atendimentos são sem agonia, porém eficientes. E os sons da cidade parecem que me embalam em uma nuvem de algodão. No aeroporto de Frankfurt, por exemplo, se passa um fenômeno que eu não vou entender nunca. Milhões de pessoas circulam ali por dia. Milhares ao mesmo tempo, algumas delas com pressa em meio a veículos motorizados e bicicletas. No entanto pra mim aquele aeroporto ainda consegue ser um dos lugares mais silenciosos do mundo. Como assim? Eu fico me perguntando toda vez. Em Salvador, duas pessoas juntas conversando uma ao lado da outra já conseguem fazer mais barulho do que o que se ouve naquele aeroporto. Exageros à parte, nas ruas de Bremen a gente mal consegue ouvir os sons dos motores dos carros. Esse silêncio e ritmo mais tranquilo daqui, me chocam à principio, mas sempre acho muito legal essa oportunidade de desacelerar um pouco, depois de minhas estadias sem Salvador onde a vida vai a mil por hora.
Ter um pouquinho de cada coisa é maravilhoso e acho que todo mundo gosta. Só fica complicado quando suas casas diferentes querem dar um nó em sua cabeça e começam a trocar as bolas pra te confudir. Por exemplo, hoje logo depois de chegar em Bremen, entro no carro de meu sogro e fico sem entender nada ao ouvir o "tche tche rere tche tche" de Gusttavo Lima tocando na radio. Aí pra completar foi chegar em casa e encontar minhas amigas que vieram, trazendo bebibas cuidadosamente escolhidas pra ter a ver com meu nome, petiscos, abraços apertados, sorrisos, estórias e saudades. Me senti em casa de novo. Uma outra casa, como num sonho. Se isso for sonho mesmo, espero não acordar nunca. Amigas - e nesse caso quero dizer Flora, Sil e Stela - obrigada por misturar as minhas casas e por obrigar a Alemanha a aceitar que a minha casa, minha Heimat, tem plural sim e ponto final.
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P.S. Galzinha, faltou você nesse reencontro. Mas a gente fala tão alto que você deve ter nos ouvido em Santa Isaber...
amiga, fico muito feliz por saber que a Alemanha também te recebe bem... confusões à parte, é lindo demais ter duas casas!
ResponderExcluiramo muito você, saiba que sua terceira casa é meu coração (amizade como a sua me deixa brega, tá?)
beijos,
s.
Que lindinha, amiga!
ResponderExcluirSaiba que você tem uma casa em meu coração também. E não há nada de errado com a breguice. Eu sou fã:-). Beijos